Dormi muitíssimo bem, acordei antes da recepção chamar, as 6:30.
Aquela coisa de empacotar malas estava pronta desde as 19:00 de ontem. Com as 3 motos juntas, partimos em direção a Calama, que fica a NW e a 90km de San Pedro. Paramos sobre o Vale da Lua para nos despedirmos do vale "onde nunca chove".
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Na estrada saindo de san Pedro, ha um mirante para o vale de la luna. |
O caminho para Calama, uma importante cidade que existe por causa da mineração de cobre, não tem muitos atrativos, subimos de 2.400 até 3.300m para depois descer a dois mil metros onde fica a cidade. É o último trecho onde vejo os picos nevados dos Andes. Mis tres amigos seguem para o norte, vão passar uns dias em Iquique e eu vou para o sul, em direção a Antofagasta e Copiapó, com uma noite em Taltal.
Os mais de 200km entre Calama e Antofagasta são um porre. A região tem intensa atividade de exploração de vários minérios. Se vê trens enormes subindo ou descendo e a estrada é lotada de carretas enormes. Há uma poeira no ar que deixa tudo rosado, cor de pó de arroz, repare a cor do solo e das montanhas e entenderá. Não há vegetação alguma.
A chegada a Antofagasta é curiosa, o GPS indica que faltam
menos de 20km e a altitude ainda em1.200m. Daí no meio do caos de caminhões e
taxis se desce por um vale apertado e bem íngreme. A cidade e o oceano Pacífico
surgem de repente.
Vou direto à avenida costeira. É indescritível a sensação de se chegar ao Oceano Pacífico. Olhar para a praia e
saber que para a esquerda se vai ao sul, e que o sol vai se por no mar já não é
novidade para mim, o que vem forte é a ideia de ter deixado todo o continente
para trás, de ter completado uma missão ou de ter superado o chaco, a chuva, o
tédio e a neve.
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De São Paulo até aqui!! Cross Coutry ou Continent crossing???
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Abaixo: O Pacífico está mais azul do que nunca nesta tarde.
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O Trapiche original que gerou o porto de Antofagasta.
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Preciso cuidar da Rocinante, e nos últimos dias surgiu um
ronco no cambio que me parece rolamento do eixo primário, aquele logo após a
embreagem, tem horas que não ronca, tem horas que ronca mais. Preciso trocar o
óleo do motor e ver como anda este óleo de cambio.
Passo por um posto Shell
muito grande e arrumado, pergunto se podem trocar o aceite (óleo) da caja de
marchas (cambio) e eles me dizem
algo num sotaque initeligível e me apontam para uma loja do outro lado da rua:
Lubricentro Mobil!!! Mui Bueno!!!
O Lubricentro Mobil, vende lubrificantes LiquiMoly, uma
marca alemã super high tech! Eles tinham de tudo que eu queria da LiquiMoly
desde redutores de atrito de MoSO4 ( Bissulfeto de molibdênio para os não
iniciados) até óleos mutigrade (excelentes para os não iniciados) para a Caja de marchas.
Ou seja, servi caviar com champagne para a Rocinante, mesmo que em um picnic em Cubatão...
O aspecto e o cheiro do Lubricentro não me espantam, aliás, me remetem às oficinas da fazenda ou da minha adolescência. Ou seja: uma meleca total!!! Sou tratado como rei, como se eu estivesse na Officer ou na PerfectMotors!!!
Saindo
do paraíso de lubrificantes, resolvo almoçar bem e leve. Penso no cassino, mas
quando passo na frente do Yacht Club, nem penso duas vezes. Quase no final da
sobremesa, um cara muito simpático joga uma jaqueta Spidi na cadeira e coloca
um capacete BMWsystem6 na mesa. Acabo de fazer mais um amigo! O simpatissíssimo Boris! Também dono de BMW. A conversa é ótima! Ele me indica um caminho alternativo: ao
invés de seguir a Ruta 5 até Taltal
descer via Paposo!!!
Grande
dica. El nuevo camino me livrou delos autocaminhones e me colocou em um cenário absurdamente
maravilhoso! Saindo da lotada Ruta 5,
subo até 2.300m por um vale lindo (mesmo sem nenhum vegetal, sin ratones e sin
culebras).
Maravilhoso. Lá pelas tantas surge uma placa indicado “observatório”
e a estrada sobe a parte N do vale ( direita para quem continua perdido...).
Precisa perguntar duas vezes? Chego
ao magnífico Observatório Paranal, que fica a 2.700m. Não posso entrar, óbvio, mas as fotos mesmo
de fora ficam ótimas.
Vejam o disco voador que eles capturaram!!!
ook! isto é uma antena de radio telescópio, tem cerca de 8 m de diametro. Mesmo assim é mais interessante que um disco voador!!!
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Saindo do observatório e voltando ao vale.
Repare nas cores... tudo neste rosa-pó-de-arroz!
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Consegue ver o oceano???
Logo após retornar para a ruta principal, a serra começa descer para o oceano. Mesmo
filme, a menos de 25 km da costa ainda estou a 2.000m. Descida por uma quebrada
muito íngreme, só que desta vez o lugar é lindo e as curvas perfeitas. Paro em
um mirante para as fotos.
Surge um casal Belga que tentou passar pelo passo de
Agua Negra e pelo San Francisco e não conseguiu: ambos fechados por causa do “
inverno altiplano” e sua neve...
neve??? Fechados??? Magina... onde já se viu
nevar em dezembro e no deserto?? ( você leu o
que eu passei no dia 25 de dezembro???). Na verdade, quase tudo que estes belgas disseram não teve nenhuma relação com a realidade... falaram um monte de bobagens...
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O Encontro de dois grandes desertos.
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Peligro? Donde?
Abaixo: seguindo este caminho (para o Norte... lembrou onde estamos?) se vai a Caleta El Cobre. Um caminho lindo, beirando o mar por 98km. A beleza e a proximidade do mar enganam: a rota até El Cobre é perigosa, areia, buracos, pedras, sem água e não passa ninguém por lá. Saindo de Antofagasta para o sul, só se consegue ir por cerca de 20km até um lugar chamado Puerto Coloso. Ao sul de puerto coloso são cerca de 50km (linha reta) de rochas altas terminando no mar até El Cobre.
Desde Valparaíso até Punta Bombón (o primeiro oásis na costa Peruana) são ceca de 2300km. Imagino o desespero de navegadores espanhóis do sec. XVI ao se deparar com este lugar ! Algo como 15 dias navegando de costa inóspita onde os Andes encontram o Pacífico, somente rochas, praias sem vegetação e nada de água. Isto navegando em um oceano que só é Pacífico no nome...
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Porto de Paposo
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Foram somente 45 Km pela costa, neste cenário único, foi pouco não acha??
O caminho do Boris me proporcionou 49Km de costa do Pacífico
versus Andes. Lindo! Muito mais legal do que a Hwy 1 de vai de Carmel a San
Luiz Obispo!!! Linda tarde, lindo céu e
o encontro de dois grandes desertos.
Chego a Taltal. Uma pequena, média vai, vila a beira da praia. Durante o século XIX era um
porto baleeiro (leiam Moby Dick urgente...).
Até o começo dos anos 30 era um importante porto para escoar e sustentar as minas de salitre, enxofre,
prata e cobre. Talvez após o crescimento de Antofagasta este lugar decaiu. É
demais de curiosa. Existem várias e várias construções antigas recicladas. E o
píer decadente, a locomotiva escondida na praça e outras ruínas denunciam o passado de glória.
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Chegando em Taltal.
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O que restou do cais do porto e de suas fábricas e casas.
Logo antes da primeira guerra mundial, os alemães sintetizaram amonia e outros nitratos. O salitre Chileno se tornou dispensável, além de mais caro, e toda a economia desta costa nunca mais foi a mesma. Vários historiadores se referem a este período como a era do salitre.
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No portico diz 1886... |
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Estou muito confortável em um pequeno hotel que é uma graça,
qualquer coisa depois daquela cidade poeirenta feita de adobe é lindo...
O hotel se chama Mí Tampi ("o meu tempo", no dialeto local). É impecável! Pequeno e simples, com toalhas fofas, lençóis ótimos e doces senhorinhas tomando conta de mim. Deixei uma gorda gorjeta e recomento o hotel a todos! Indescritível!
Amanha é dia de praia (...justo eu...) e de chegar a
Copiapó. Tenho duas coisas a considerar: se o passo de San Francisco está
aberto (neve e hum grau de novo? Não obrigado...) e como evolui o ronco no cambio da Rocinante.
A situação ideal é cruzar o S Fco e dormir em Fiambalá.
A opção extrema é deixar
a querida companheira numa oficina BMW em Santiago e voar até o Uruguay... amanha veremos!
"There are no foreign lands. It is the traveller only who is foreign." -Robert Louis Stevenson
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