segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

De volta a um shopping center: que horror!!!



Saí de Fiambalá hoje eram quase 11;00...

Acordei cedo, mas fiquei na mesa do "café da manha" escrevendo para o blog. A cidade é beeeem pobre e a maioria das pessoas é como as montanhas: muito secas e muito frias. Há exceções, como os rapazes em pequenas motos no posto e o senhor que veio mostrar a moto para o filho. Rolou o de sempre: o menino em cima da moto e eu tirando foto dos dois. Foi legal.  Às sete da manha faziam 18C, as 11:00 já batia 31c!

Eu com zero de vontade de enfrentar os dois dias de tédio, calor, deserto e uma região sem nenhum predicado...  e para voltar para casa...



Fiambalá fica em um vale sentido S - N, estamos rumo sul na saída do vale: serão 644 km de planície abafada e modorrenta até Córdoba. Isso se tudo der certo... altitude aqui: 1400m

Abaixo: engraçado??  não meu amigo, isso é pobreza mesmo! Pelo menos a moto era nova perto do que eu vi por ali......








Ao lado: Aimogasta em plena segunda feira   Abaixo: vejam que paisagem acolhedora!!


O morador mais ilustre da região ....


Acima e Abaixo: adeus cordilheira...   

... bem vindo à terra do cacto!!!








































A cidade de Fiambalá fica em um vale muito largo que sobe por dentro dos Andes em direção N. O caminho do Paso sobe para norte e depois vira para W. A saída da cidade em direção a planície é para S. Se caminha muito rodeado por montanhas relativamente altas até se descer para uma região a 800m. Até ali foi tudo divertido, mesmo com a estrada estreita e muito sinuosa. 


A região de Fiambalá, que é toda voltada a turistas, já não é nenhuma maravilha de prosperidade...   mas saindo do vale a miséria impera. Nem me dei ao trabalho de fotografar muito as casas de argila e os currais feitos com galhos deitados de árvore para conter cabras anoréxicas. (Cheguei à conclusão de que as cabras e raras vacas não fogem dali para não morrerem secas!).  Lembrem-se que mesmo com alguma vegetação mais encorpada, ainda é deserto, quente arenoso e não ha gramíneas. Sin ratones y sin culebras... Mesmo assim não se vê criança barriguda nem pelada.

E por qualquer povoado por menor que seja, há uma Escuela muito em ordem exibindo a bandeira da Argentina. 


Cenário ideal para um bang bang Argentino!!!Estrelando Carlos Menen, Carlos Reutmann e Chiristina Kirschenr como a dona do bordéu...




























Andando mais uns cem km entro em um vale com alguma agricultura organizada, logo após o vale uma serra alta e longa de rocha vulcanica.  A estrada entra por dentro desta serra, sobe de 700m a 1.300 para depois descer a 400m saindo em outro deserto, com 42C me esperando. 



Mais um novo amigo para conversar!!!


Há várias histórias engraçadas de exploradores, aventureiros, soldados ou vagabundos que ficam tão bêbados que abraçam o cacto...  bem...  mesmo sóbrio eu resolvi tirar uma foto abraçado com o cacto...  Encontrar um exemplar com cara de cacto-de-bebum-de-faroeste foi fácil. Estacionei a moto na beira da estrada e fixei a maquina no tripé. Até aí moleza...  daaaaí eu fui chegando feliz perto do cacto, para descobrir que é impossível abraçá-lo ou sequer chegar mais perto do que estão vendo!!! Existe por todo o chão perto do dito cujo um emaranhado de espinhos duríssimos... que furaram a minha bota (tive depois que tirar os espinhos com alicate...). Não se apóia a mão nele por conta do monte de espinhos...   Tive que entrar e sair deste matagal umas três vezes até chegar a uma foto razoável... Eu estou sorrindo é de raiva dos espinhos me cutucando nos pés e nas mãos. E tem umas aranhas desinibidas e curiosas também...

A última serra divertida,,,,  sniff...sniff...


Read the signs: 644m e 40C.... lá na frente a última serrinha divertida onde eu encontrei o cacto-de-bebum.







Faltam só 400 km disto?????


Vejam o inferno verde  lá embaixo!!!!








































































































Foram quase 300km neste inferno entediante, passando por dentro de cidades horríveis e sem gasolina. Tive que entrar em uma vila quase abandonada e calorenta para comprar, pelo dobro do preço, 5 litros de gasolina.  

O rolo foi o seguinte... não vi NENHUM posto de gas desde Fiambalá... fiquei preocupado, o calor, o tédio e já tinha andado uns 400km com aquele tanque, passar de 550km não era seguro.. Não dava mais para voltar até Chumbicha . Em um entroncamento, uma viatura da polícia me disse (com muita má vontade) que 50 km adiante existe gasolina. Oitenta km depois chego a  um vilarejo abandonado (chamado General Mansilla), com uma só rua asfaltada e cortado pelas ruínas da ferrovia....

Ando bastante por ruas empoeiradas e não encontro posto... cruzo várias vezes com um casal bem gordo e decadente em um Ford Falcon beeem arruinado. O senhor me dá orientação de quem tem gas em casa para vender...  42C e eu andando pela cidade batendo de porta em porta... puta poeira e nenhum som de nada!!!  A cidade viveu da exploração de um salar vizinho. Salares por definição não secam, mas a cidade secou e da ferrovia restam pedaços de trilhos e uma estação decrépita. 





Buenas tardes señor!!  ?Por supesto tienes un bocadito de nafta para vender?



Confesso que passei medo, tudo muito abandonado e ninguém informava nada corretamente. Muito calor, muita poeira e eu procurando a tal da casa que vendia gasolina paralela. Quem me atendeu foi a filha de uns dez anos de idade, ela foi chamar o pai e eis que surge um daqueles barrigudos casca grossa. Paguei uma fortuna por pouca gasolina e o cara era enrolado e demorado, ficava gritando com a filha e me tratava com ironia... se eu não encontrasse gasolina, teria algo como mais uns 70km de autonomia. Talvez dormisse na estrada, mas em Gal Mansilla jamais!!!


O posto de gasolina "organico"... reparem na tecnologia!!!





























Saio de Gal Mansilla correndo!!! retorno à rota e qual a surpresa quando 40km depois chego à Vila Quillino, um importante entroncamento com um mega posto YPF!!!




Acima: fuga de Gal Mansilla!!!

Quando chego ao YPF corro para dentro do restaurante para me esfriar, beber água gelada e comer uma fruta. 

Passei mal no restaurante, a minha pressão caiu e eu quase desmaiei... ainda bem que o ar condicionado lá era ótimo.

Além da fila, os nada simpáticos funcionários que te fazem um favor de vender gasolina não aceitam Tarjeta mas somente effectivo... lá vou eu em mais uma expedição em busca de um caixa eletronico, andei um bocado pela região para sacar $$$ vivo... um saco.  






De volta à simplesmente ridícula fila da gasolina. 

Espero quase duas horas no restaurante com ar condicionado até a temperatura baixar para 39...  faltavam somente 150 dos 640km de hoje.

A coisa de 100km de Córdoba, a capital da província que já teve Carlos Reutmann (ex piloto de F1, na Ferrari e na Brabham) como governador, começo a ver agricultura de respeito, empresas grandes, revendas de máquinas agrícolas, cerealistas e a coisa é toda organizada. Linda  a paisagem. Somem as cabras Diet, surgem árvores realmente altas.



Córdoba é uma cidade grande e "globalizada", apesar de  Carlos Reutmann o lugar é legal e parece uma Curitiba mal cuidada e sem as meninas bonitas...

Estou em um daqueles hotéis americanos fantásticos, oposto das "flea houses" dos últimos dias...  o caso foi que fiquei sem $$$$ trocado, e precisava de um caixa eletronico.. Fáaaaaacil, só ir no shopping ultra chic que existe anexo ao hotel. Moleza!

Foi um choque horrível...  uma manada de gente que não olha para outras pessoas e vaga de maneira muito mais burra que as cabras magrelas ou as Llamas...  a somatória das vozes forma um ruído constante e indefinível que faz a ventania do altiplano parecer solo do Hendrix. Ninguem te olha nos olhos.

Maaaas...  eu sou um Homo Sapiens-Iguatemi...   melhor eu voltar à real por que é no shopping que eu consigo alimento e roupas... satisfaço minhas necessidades básicas ou supérfluas e encontro femeas para acasalar...  no altiplano ou na linda costa rochosa eu não sobrevivo.

Faltam 360 dias para eu voltar à altitude, à puna e às pessoas maravilhosas que eu encontro no caminho.




Acima: Adiós desiertos y sierras...   Abaixo: de volta ao habitat natural, o pasteurizado hotel Hilton de Córdoba




O mapa do dia. Realmete o único trecho chato destas viagens é cruzar a maior parte do continente...




"He who does not travel does not know the value of men." -Moorish proverb 

Paso de San Francisco



Já está Funcionando
 o novo sistema de índice para facilitar pesquisas:


Logo à direita voce encontra
um link para o índice por assunto.

               Experimente!!!


Olá!!!  Você que está pesquisando sobre os Andes e encontrou esta postagem, não deixe de escrever um comentário!

Do lado direito superior da tela ha o link para o ìndice. Ha varias passagens que eu tenho certeza de uqe você irá gostar!! 

Um Abraço, Kiko Barros.














Novo texto revisto e com a narrativa do trecho até Fiambalá - versão novembro 2017



ALGUNS COMENTÁRIOS FEITOS EM 2019



Agora que a net voltou... ou acabou a ressaca do carinha que liga o wi-fi aqui no hotel...  vou publicar as imagens do dia 31 com alguns comentários. 

Quando estiver no Uruguay completo a história.

Acima: Estatua à Liberdade - cedida pelo governo Chines comemorando o resgate dos mineiros em  Copiapó.








Acima: Na parte baixa do caminho, muito usado por grandes carretas das mineradoras. Repare no piso perfeito de terra com bischofita



O caminho do paso começa a 600m de altitude aprox, confortáveis 25C. Saí de Copiapó e andei por  uns 50km até a saída da estrada para o Paso. O dia amanheceu Nublado. Reparem na neblina que começa a se desfazer. O visual com a névoa é algo!


Realmente, o dia amanheceu até frio, totalmente coberto com baixo Cumulus...  feio... Os primeiros 40km são dentro de uma área industrial, feia e cheio de Autocaminhones. Não houve novidade porque no final da tarde do dia anterior eu fui até a placa que indica o paso de S Fco e andei alí por coisa de 800m. O sol se pôs e eu ainda estava por ali... foi lindo!


Aqui nada enferruja... esta é a caminhonete de apoio esperando a equipe de pavimetação da estrada...

1.000 metros e 19 Graus... muuuuito gostoso!!!


Ruínas Incas???   não, de uma vila de mineiros... (que trabalham em minas e não nasceram em gov Valadares...)

O caminho é um show!! O vale é largo, as montanhas altas e sem nenhum vegetal. Eu estva preocupado com o cambio roncando e torcendo pára o piso continuar naquela ótima qualidade. O visual com a neblina se desfazendo foi algo indescritível!! Estava seguro e tranquilo.

A direita saída para uma das minas ainda ativas. Por conta dos caminhões pesados, as estradas "aqui em baixo" são excelentes!

Logo chego à primeira grande bifurcação. Esta saída para a direita leva a um pequeno oásis chamado La Puerta (2.000m altitude) . De La puerta em diante há um caminho que leva ao imenso vale de  Maricunga pelo vale de El Peñón. Se chega ao salar de Maricunga pelo lado SW (a adunana está do lado NE). Este caminho é inóspito e dificil... quase passei por lá em 2017.

Aproveitando o assunto... pra quem é macho messssmu (não para quem pensa que é só porque foi à Ushuaia em moto americana..)  existe o Lago Negro Francisco (cerca de 70km em linha reta ao S da aduana de Maricunga), fica a 4.150m de altitude. Depois da mina de ouro Marta (já abandonada). Como os flamingos e vicunhas não gostam de turistas, e ninguém são vai lá... o lugar é coalhado de vida selvagem. Dureza é chegar e sair daquele buraco! Eu ainda publico uma foto minha em Negro Francisco um dia... Aguardem!!!














Depois eu não sei porque o cambio ronca... repare o reservatório de gasolina (azul) inflando com a queda da pressão, este simpático botijão é quadrado, na foto parece um baiacú!!!!

As garrafas de água se soltaram ao longo do caminho. Perdi Uma delas. PUTA burrada!!! Não usei nenhum litro da gasolina extra que eu levei. O consumo da GS em grande altitude cai muito, andei quase 620km com este tanque de gas (33l) Por outro lado eu não tinha nenhum cobertor e pouca água de reserva. Que em uma emergencia, teriam sido mais importantes do que gasolina extra...

Não, não são Llamas...  são a versão andina da minha moto!


Apesar de sem pavimento, esta estrada é fantástica!  Sem trancos e com muita aderencia.  Ando com toda a calma entre 80 e 100 Kmh. Repare: não há vegetação, pássaros ou animais... nada se move ou dá sinal de vida. 




Repare nas linhas de alta tensão, ao fundo. levam energia para 4 mineradoras muito grandes que estão na área. Um pouco de cobre e ouro (o ambicioso e psicótico Diego de Almagro passou fome e frio pisando em ouro...), Silício e alguns metais raros. A estrada nesta parte só é excelente por causa do tráfego de caminhoes muito pesados. Passei por só uma destas carretas.


Parada para abaixar a pressão dos pneus, para água e Duraznos.

Na próxima viagem virão mais frutas e mais água. Geralmente depois da primeira parada eu me sinto mais relaxado e mais à vontade. Eu só relaxei após esta parada. No final deste vale a coisa ficou séria, aconteceu o primeiro trecho de piso ruim com subidas muito íngremes. O piso e as montanhas tem a mesma cor: este salmão amarelado, cor de pó de arroz. O céu é isto mesmo: azul profundo, silencio e vento.



Eita serrinha difícil, você reconhece onde está a estrada? 

A paisagem e o silêncio são incríveis! Por muito tempo, tudo o que se vê tem esta cor marrom claro roseado. Neste trecho já existem algumas obras para retificar o traçado e pavimentar a serra. Além de alguns caminhos feitos para provas especias do Rallie Dakkar que aconteceria ali 4 dias depois.

Depois desta serra, que vai até 4.400m se desce até um buraco chamado Caballo Muerto. Agora entendo por que do nome. Logo após los caballos muertos, se abre o vale do Salar de Maricunga, onde está a aduana. Neste salar, há alguma umidade na superficie e algumas poças dágua, estas refletem  ao céu uma cor azul claro esverdeado sobrenatural. Não entendo pq a máq. fotográfica não registrou este hipnótico azul.


Aqui começaram os problemas: algum engenheiro chileno jogou um pedrisco muito fino por toda a estrada. A GS carregada vai bem mal neste piso. Agora eu percebo os primeiros sinais de
cansaço na altitude, mal aguento andar de pé em cima da moto.


Chegando na aduana Chilena, no salar de Maricunga. Ao fundo o conjunto demontanhas que forma o parque nacional Tres Cruces, e o caminho para Argentina.

Estava MUITO FRIO. Acordei todos na aduana. O processo é burocrático mas não demorado. Vc  sempre é tratado com muitíssimo respeito. Na espera para ser atendido rolou a vontade de uma saudável soneca. Eu deveria ter dormido um pouco ali. Dica: sentiu soninho? DURMA!

Acima, Foto tirada a 3.780m altitude. O Chile fica para trás. Pena pelos lugares e pelo visual...  mas eta mulherada feia!!!

Acima: Vista da saída do vale de Maricunga, já pelo horroroso piso de cascalho solto, o vale verde se chama Rio de lava, o que passa alí é um córrego. A temperatura começa a baixar e o vento aumenta. Foto tirada a 4.280m altitude. 


O caminho por La Puerta entra em Maricunga pelo lado esquerdo da foto, Também  à esquerda é o acesso ao misterioso Negro Francisco.
Foto tirada a 3.880m altitude. 

A estrada está sendo pavimentada. O trajeto sendo retificado, eliminando milhares de curvinhas e precipícios. Vai ficar muito melhor e mais fácil.


A obra de pavimentação foi retomada em 2014. Ritmo ultra lerdo. Estive la em 2017 e o traçado estava retificado, mas sem a pavimentação. Entre a Laguna Negra e o Tres Cruces o piso estava a sucursal do inferno. Vide meu post " deixando de ser teimoso" em 27 fevereiro 2017. Em 2019 a obra de pavimentação foi parcialmente concluída. O trecho da aduana em Maricunga até o Tres Cruces está pavimentado. A descida até maricunga e a aduana estava pavimentada desde 2017. Os trechos entre a fronteira e a laguna ainda estavam em obras, mas com o traçado novo, muito mais fácil.


Logo na saída da aduana existe um trecho de coisa de 7km pavimentado mas sem pintura... fui feliz olhando Maricunga a minha direita. qual a surpresa que tenho quando acaba os asfalto, o leito todo coberto de cascalho grosso, uma camada alta e fofa. Onde ainda não existe um pouco de asfalto, ou cascalho pintado de preto, os chilenos cobriram a estrada com uma camada espessa de cascalho grande e solto. O piso era fofo até para andar a pé!

O pneu traseiro cavava  buracos quando eu começava a andar, a moto ia balançando. Eu não conseguia andar a mais de 30kmh. Daí resolvi sair da parte coberta para andar sobre a lateral que estava terraplanada com cerca de 40cm de largura. Andava melhor, mas haviam valetas e enormes pedras soltas...  melhor foi voltar para o cascalho...

Dez cm de cobertura destas pedras soltas. Impossível andar sobre isso!! Tentei todas as regulagens e truques de suspensão. Difícil, cansativo e lerdo. Foram "somente" 80km deste sofrimento a 30 ou 40 km\h!!!

O Trajeto é moleza! Nada ingrime... qualquer toyota corolla faz...    mas estas pedras soltas...  


Em um raro trecho já asfaltado com 800m de comprimento.... humpf.!!! Ao fundo todos os tres blocos do magnífico Vulcão Tres Cruces!!!

O Vulcão Tres Cruces é magnífico! excepcionalmente estava sem neve nos picos. Neste trecho, que é um planalto a cerca de 4.200m eu via perfeitamente a estrada antiga. Como a estrada nova estava coberta do impossível cascalho, resolvi sair pelo deserto até a estrada antiga... A 5 km/h desviando de tudo.  Os primeiros 50 metros foram fantásticos... mas logo começaram os buracos e valetas. Terrível mesmo é uma poeira muito fina que se acumula sobre os buracos. Não se consegue reconhecer onde é piso duro e onde é uma poça desta poeira pois fica tudo nivelado e liso. 

Lá pelas tantas passo por uma gigantesca depressão que estava coberta com o tal pó!  A moto balançou demais, o guidão deu o maior chimming e achei que eu seria jogado fora da moto. Para minha sorte eu estava rápido o suficiente para a moto não parar naquilo e a coisa voltou ao normal apos o pneu dianteiro encontrar solo firme. PUUUTA SUSTO.

Após vencer mais uns trezentos metros de deserto e passar por cima do murinho de terra que protege a nova estrada, voltei para o lastimável cascalho e parei para descansar.





























Acima: Parece fácil, o piso parece liso, o dia parece lindo... Ao fundo o Vulcão Trez Cruces 6.749m. Note a cara de saco cheio... 



Depois de 60km de pedras soltas, 4.550m de altitude, vento muito forte e 12C. Parada para água e comida. me sentei na beira da estrada e fiquei olhando tudo pelo binóculo, é tudo lindo. Quem sabe um dia com o asfalto pronto...   

Começaram os efeitos da altitude e desidratação: me sentei no monte de cascalho com o binóculo e sem perceber se passaram 40 minutos olhando pro mesmo lugar!!! Depois de quase meio litro de água e uns chocolates, eu voltei a pensar mais ou menos normalmente.



Acima: Este agradável e aconchegante lugar se chama Mulas Muertas...  por que será que tudo por aqui vem com o sufixo Muerto? Mesmo que as mulas morram, o lugar é maravilhoso!!! 

Abaixo: logo à frente, las Barrancas Blancas, ao fundo um maciço de  vulcões. No vale láaa na frente fica a Laguna Verde, que também está Muerta!

Acima: Complexo vulcânico Nascimiento, com seu pico mais alto bem ao fundo.

Acima: O Ojos del Salado está bem a direita na foto. Imediatamente a direita da placa se vê o Vulcão El Muerto com 6.450m de altura. Foto tirada a 4.460m altitude. 

Acima: O Ojos del Salado só apareceu neste momento, o vulcão mais alto do planeta, 6.853m. Está ativo com sua última manifestação em 1993. Repare nos caminhos marcados no deserto.

O trecho das fotos acima continuava sem pavimento em 2019
.
Se eu não estivesse tão cansado da estrada péssima e já meio biruta da altitude, teria seguido a trilha para o Ojos del Salado trilha até uns 5.200m de altitude. ( ah! Ah! Ah! AH! AH! sentado na minha cadeira em São paulo é fácil dizer isto!!!)



No dia seguinte ele estava ainda mais encoberto. Eu volto para cá... só para chegar mais perto dele!!!


Passei meses estudando a Plaza de Volcones (o nome deste lugar) a maior concentração de vulcões no planeta, e o Ojos del Salado esta encoberto!! Um Puuuta  vento Sul, as nuvens se movendo muito rápido ...este lugar não é para curiosos, apesar da estrada ser fácil.


Hernán Donoso e su señora!!  O mais que simpático casal que estava passando uns dias no abrigo na Lagoa Verde (ou Laguna Muerta...). Ele instrutor de alpinismo e guia ao Ojos del Salado. Simpatisíssimos!!!


Parei na Laguna Verde, um lugar Hipnótico, e encontrei o casal Donoso. Aliás, TODAS as pessoas que eu encontrei pelo caminho foram legais, interessantes e muito diferentes. Tomei uma Puta bronca do Hernán!!  Ele me  disse que eu me movia muito rápido, falava rápido e não respirava. Naquele lugar não ha pressa para nada, disse ele. Cada gole de ar é mais raro que um gole de vinho... Esta lição me foi muito útil!!!!


Acima: A lagoa é indescritível!!!  Ela é grande, a água absolutamente transparente e o fundo de rochas claras dá um senso de profundidade único!  A medida que o sol e as nuvens se moveram, a cor que a lagoa irradiava mudava de tom, a cada cinco minutos a impressão é que tinha trocado toda a água do lugar!  O vulcão mais próximo e à direita é o El Ermitaño, 6.146m. Esta cabana é usada por alpinistas para se aclimatarem antes de continuar a subir. Ficam no mínimo 4 dias antes de prosseguir.





Fiquei ali por cerca de uma hora. A água é salobra, cheia de minerais diferentes, por exemplo cobre e arsênico, daí a cor. extremamente transparente e geeeelaaaada!!!! Saber que não se pode nadar alí por causa da temperatura e saber que não há vida na lagoa deixa o lugar meio fantasmagórico...

Lógico que eu pus os pés e molhei as mão na lagoa!! Quando seca sobra um sal branco muito fino que cola em tudo... na mão nas botas, na camera fotográfica... a agua é extremamente salgada e fiquei enjoado de experimentar.



Acima: Ao Fundo da foto aparece o complexo vulcãnico Nascimiento.Foto tirada a 4.340m altitude.  

O gentil casal. Procurei, sem sucesso, contato com ele durante estes anos...  nunca mais o encontrei.



Oooopsss!  Moto Muerta!!! graças ao Hernan voltei pra estrada.. repare que a foto está torta! Primeiros efeitos graves da Puna!


Acima: Complexo Vulcanico Falso Azufre, 5.890m

Acima: faltavam dois km para o Paso. Esu estava quase arruinado de cansaço e totalmente Punado...  à direita o Vulcão san Francisco, que dá nome ao lugar.


Faltam dois Km....   8 graus e 4.650m. Começo realmente a sentir La Puna!!! Assim que pulei para fora da moto me deu vontade de desmaiar, me segurei na moto e respirei muito, me movi muito devagar e passou.  Pensei que aquele lugar logo se chamaria Kiko Muerto......  bem melhorou um pouco somente...   eu fiquei beeem biruta!

Em 2017 o trecho entre o paso e a laguna estava com seu trecho totalmente retificado, mas ainda em terra. Foi muito difícil passar por la. veja o capítulo "deixando de ser teimoso" em 27 fevereiro 2017.

Como informação: em setembro de 2019 o trecho entre o Paso e a aduana em Maricunga foram totalmente pavimentados. Adeus rípio e chega de dificuldades!

Abaixo: Tirei muitas fotos do lugar, todas ficaram tortas e a maioria inútil!! Muito engraçado!! A medida que eu vou ficando cansado, eu paro de tirar fotos e de filmar... pena isto.


Cheguei!!   com uma roda no asfalto e outra no rípio. Ao fundo o Vulcão San Francisco. Foto tirada a 4.758m altitude. O portal foi derrubado por uma ventania em 2016, em 2019 continuava no chão.

Cheguei ao Paso! Que vitória!!! Naquele ponto resolvi encher os pneus da moto e colocar mais um casaco. Percebi o quanto a Puna me afetava: dava voltas e voltas pela moto sem conseguir me concentrar. Eu não terminava nenhuma tarefa simples, como retirar o banco, ligar o compressor etc. Abria a garrafa de água e não bebia, colocava uma manga do casaco e saía andando... Cada rotina era interminável

Lá pelas tantas eu olho para o deserto, o que eu vejo a cerca de uns 50m de onde eu estava???  MEU CAPACETE!!!!   Como ele foi parar lá? Não foi o vento não, eu estava tão doidão que larguei ele lá e não me lembrava!!


Aposto que você não leu o post " chegando em nova toledo" do dia 30 de dezembro...


Acima: O caminho Argentino estava imerso nesta neblina e com chuva...  que final de dia!



Agora só faltava descer tudo aquilo... Veja o que me esperava: neblina, chuva e a noite... já vi este filme antes....  Iniciei a descida, havia pouco vento, completamente biruta da Puna eu me fixei na faixa central e fui devagar. Visibilidade uns 100m, eu contava a altitude e  mais uma vez festejei muito por meros 10C de calor!!! A 4.100m eu já estava normal de novo...


A aduana fica a 4.000m de altitude, de frente para o salar de San Francisco e com uma vista magnífica para a o vulcão Incahuasi. Já estava quase anoitecendo e começava uma chuva bem fina, o que esquentou um pouco.
Fui muito bem recebido por gente extremamente humilde. Ficamos um pouco de conversa e daí cada um se sentou em sua escrevaninha para o trabalho de me admitir em seu país. O processo é burocrático mas não foi demorado e a conversa foi boa. Existe um curioso protocolo: Primeiro o sujeito “a” recebe meus documentos, depois fui à mesa do Sujeito “b” para assinar um livro enorme, parecido com os livros antigos de cartório no Brasil, o sujeito “c” me devolve o papelório com formalidade. Fiquei observando o grande forno de metal fundido, movido à lenha, que serve para aquecer o local.  Me perguntaram se eu iria ficar na pousada para alpinistas, e mais uma vez eu recusei. Curiosa esta minha mania de me prender ao pré-estabelecido e não enxergar uma possibilidade mais segura. Teria sido muito mais interessante, confortável e seguro ter dormido naquela pousada quente e seca a 4.000m.

Saindo da aduana ficam Las Peladas (uma muralha de montanhas nevadas, não são meninas...), totalmente escondidas nas nuvens e o começo da Quebrada de Chaschuil, o vale que me levaria a Fiambalá. A pouca luz do dia (ja eram quase 20:00) e as nuvens baixas deram um tom marrom escuro às plantas que normalmente são douradas sob o sol e deixou as rochas negras ainda mais negras: a cena era fantasmagórica.

A cada minuto a altitude diminuía, a temperatura caía e a luz desaparecia. As únicas coisas que aumentavam eram a chuva e meu cansaço. Segui descendo a cerca de 140 km/h. Apesar de tudo, eu estava tranquilo e com muito combustível a bordo.

A noite ficou realmente escura. Depois de uns 85 km da aduana, cerca de 3.400m de altitude, percebi no meio da escuridão um edifício grande que parecia um oásis naquele frio e chuva. Tratava-se (fiquei sabendo dias depois) do Hotel Cortaderas, um quatro estrelas encrustado naquele vale.  Decidi entrar. A estradinha de acesso era muito ruim e estava chovendo mesmo. Fiquei preocupado porque não via nenhuma luz acesa em nenhuma janela.  Percebi que no final do edifício, onde talvez fosse o concierge (imaginei meninas bonitas, sorridentes, solícitas, impecavelmente trajadas e me recebendo em francês) havia algumas salas iluminadas. Estacionei onde pude, ao lado de onde estava iluminado e entrei.

Fui muito bem recebido por dois adolescentes de camiseta, shorts e descalços. Os simpáticos eram da equipe de manutenção que ficou ali para tomar conta do hotel enquanto estevess fechado. Imediatamente me lembrei do filme “O Iluminado”!  Correu um frio na espinha: aqueles garotos iriam me colocar para dormir, depois iriam me cortar em pedacinhos, vender meus órgãos e a Rocinante viraria motor de gerador, com suas rodas equipando uma carroça...   Realmente me deu medo. Nem perguntei se eu poderia dormir ali. Acho que alguém ofereceu uma cama, mas o pavor era tamanho...  Não aceitei o café apetitosamente quente e arrumei uma desculpa para desaparecer dali!!! Por isto que eu acredito que quanto mais televisão eu assisto, pior eu fico!!!

A estrada segue sentido sul por um padrão repetitivo, trechos de reta com pouca inclinação, e a cada 10 ou 15 km uma serrinha mais íngreme.  Apesar da escuridão total eu conseguia viajar  a 140 ou até 160 km/h. Andei muito tempo entre 3.400m e 3.200m de altitude. Mais uma vez eu celebrava cada 100m de queda na altitude e cada grau que a temperatura subia. Quando marcou 15 °C , eu abri o capacete, os zíperes da jaqueta e comemorei o “calor”. Com o “calor” a chuva fina sumiu e a estrada ficou realmente gostosa.


Cheguei ao centro dde Fiambalá (que tem quatro ruas sul-norte e menos de uma dúzia de travessas) eram 21:45. Apesar do dia intenso eu não estava cansado. Parei na praça (a principal e a única...) e toda a polícia veio me ver! Muito simpáticos, as mesmas  perguntas  e o espanto em saber que estou sozinho. Indicaram-me onde ficava a Hosteria Municipal e logo eu estava no quarto com um excelente banho e ar condicionado. 

O simples e pequeno hotel estava fechado para uma ceia de ano novo, o dono do restaurante me acomodou em uma mesa em um canto isolado.  Não quis participar do regabofe e fui brindado com um bifinho, salada e cerveja. Era mais do que eu precisava naquela noite de ano novo.  Logo estava de volta para o meu quarto com ar condicionado.  Ar Condicionado?  Sim!!!  Para quem está a dez horas aclimatado a não mais do que dez graus, 23°C são um forno!!!

Foram 7:44 de deslocamento para percorrer 543km (70 km/h de média, rápido memso). Contando minhas paradas para fotos, caminhadas atrás de plantas e insetos, bate papo com os raros seres humanos, paradas na aduana, para água, para descansar do rípio infernal e ficar feito bobo hipnotizado pelos vulcões, foram 12:40 de viagem.


Quando me deitei senti saudade da Puna, do pedrisco solto, do vento, das dificuldades. Desmaiei na cama ultra confortável e não ouvi os fogos de artifício comemorando o ano novo...









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No dia primeiro de janeiro daquele ano a organização do Rally Dakkar cancelou a etapa Fiambalá- Copiapó por considerar o trajeto perigoso. 











São dois os vídeos desta etapa:

De Copiapó ao Paso de San Francisco - Nova versão

De Fiambalá ao Paso San Francisco




"A good traveller has no fixed plan and no intent on arriving." -Lao Tzu