Saí de Fiambalá hoje eram quase 11;00...
Acordei cedo, mas fiquei na mesa do "café da manha" escrevendo para o blog. A cidade é beeeem pobre e a maioria das pessoas é como as montanhas: muito secas e muito frias. Há exceções, como os rapazes em pequenas motos no posto e o senhor que veio mostrar a moto para o filho. Rolou o de sempre: o menino em cima da moto e eu tirando foto dos dois. Foi legal. Às sete da manha faziam 18C, as 11:00 já batia 31c!
Eu com zero de vontade de enfrentar os dois dias de tédio, calor, deserto e uma região sem nenhum predicado... e para voltar para casa...
Fiambalá fica em um vale sentido S - N, estamos rumo sul na saída do vale: serão 644 km de planície abafada e modorrenta até Córdoba. Isso se tudo der certo... altitude aqui: 1400m
Abaixo: engraçado?? não meu amigo, isso é pobreza mesmo! Pelo menos a moto era nova perto do que eu vi por ali......
Ao lado: Aimogasta em plena segunda feira Abaixo: vejam que paisagem acolhedora!!
O morador mais ilustre da região ....
Acima e Abaixo: adeus cordilheira...
... bem vindo à terra do cacto!!!
A cidade de Fiambalá fica em um vale muito largo que sobe por dentro dos Andes em direção N. O caminho do Paso sobe para norte e depois vira para W. A saída da cidade em direção a planície é para S. Se caminha muito rodeado por montanhas relativamente altas até se descer para uma região a 800m. Até ali foi tudo divertido, mesmo com a estrada estreita e muito sinuosa.
A região de Fiambalá, que é toda voltada a turistas, já não é nenhuma maravilha de prosperidade... mas saindo do vale a miséria impera. Nem me dei ao trabalho de fotografar muito as casas de argila e os currais feitos com galhos deitados de árvore para conter cabras anoréxicas. (Cheguei à conclusão de que as cabras e raras vacas não fogem dali para não morrerem secas!). Lembrem-se que mesmo com alguma vegetação mais encorpada, ainda é deserto, quente arenoso e não ha gramíneas. Sin ratones y sin culebras... Mesmo assim não se vê criança barriguda nem pelada.
E por qualquer povoado por menor que seja, há uma Escuela muito em ordem exibindo a bandeira da Argentina.
Cenário ideal para um bang bang Argentino!!!Estrelando Carlos Menen, Carlos Reutmann e Chiristina Kirschenr como a dona do bordéu... |
Andando mais uns cem km entro em um vale com alguma agricultura organizada, logo após o vale uma serra alta e longa de rocha vulcanica. A estrada entra por dentro desta serra, sobe de 700m a 1.300 para depois descer a 400m saindo em outro deserto, com 42C me esperando.
A última serra divertida,,,, sniff...sniff... |
Read the signs: 644m e 40C.... lá na frente a última serrinha divertida onde eu encontrei o cacto-de-bebum. |
Faltam só 400 km disto????? |
Vejam o inferno verde lá embaixo!!!! |
Foram quase 300km neste inferno entediante, passando por dentro de cidades horríveis e sem gasolina. Tive que entrar em uma vila quase abandonada e calorenta para comprar, pelo dobro do preço, 5 litros de gasolina.
O rolo foi o seguinte... não vi NENHUM posto de gas desde Fiambalá... fiquei preocupado, o calor, o tédio e já tinha andado uns 400km com aquele tanque, passar de 550km não era seguro.. Não dava mais para voltar até Chumbicha . Em um entroncamento, uma viatura da polícia me disse (com muita má vontade) que 50 km adiante existe gasolina. Oitenta km depois chego a um vilarejo abandonado (chamado General Mansilla), com uma só rua asfaltada e cortado pelas ruínas da ferrovia....
Ando bastante por ruas empoeiradas e não encontro posto... cruzo várias vezes com um casal bem gordo e decadente em um Ford Falcon beeem arruinado. O senhor me dá orientação de quem tem gas em casa para vender... 42C e eu andando pela cidade batendo de porta em porta... puta poeira e nenhum som de nada!!! A cidade viveu da exploração de um salar vizinho. Salares por definição não secam, mas a cidade secou e da ferrovia restam pedaços de trilhos e uma estação decrépita.
Buenas tardes señor!! ?Por supesto tienes un bocadito de nafta para vender?
Confesso que passei medo, tudo muito abandonado e ninguém informava nada corretamente. Muito calor, muita poeira e eu procurando a tal da casa que vendia gasolina paralela. Quem me atendeu foi a filha de uns dez anos de idade, ela foi chamar o pai e eis que surge um daqueles barrigudos casca grossa. Paguei uma fortuna por pouca gasolina e o cara era enrolado e demorado, ficava gritando com a filha e me tratava com ironia... se eu não encontrasse gasolina, teria algo como mais uns 70km de autonomia. Talvez dormisse na estrada, mas em Gal Mansilla jamais!!!
O posto de gasolina "organico"... reparem na tecnologia!!! |
Saio de Gal Mansilla correndo!!! retorno à rota e qual a surpresa quando 40km depois chego à Vila Quillino, um importante entroncamento com um mega posto YPF!!!
Acima: fuga de Gal Mansilla!!!
Quando chego ao YPF corro para dentro do restaurante para me esfriar, beber água gelada e comer uma fruta.
Passei mal no restaurante, a minha pressão caiu e eu quase desmaiei... ainda bem que o ar condicionado lá era ótimo.
Além da fila, os nada simpáticos funcionários que te fazem um favor de vender gasolina não aceitam Tarjeta mas somente effectivo... lá vou eu em mais uma expedição em busca de um caixa eletronico, andei um bocado pela região para sacar $$$ vivo... um saco.
De volta à simplesmente ridícula fila da gasolina.
Espero quase duas horas no restaurante com ar condicionado até a temperatura baixar para 39... faltavam somente 150 dos 640km de hoje.
A coisa de 100km de Córdoba, a capital da província que já teve Carlos Reutmann (ex piloto de F1, na Ferrari e na Brabham) como governador, começo a ver agricultura de respeito, empresas grandes, revendas de máquinas agrícolas, cerealistas e a coisa é toda organizada. Linda a paisagem. Somem as cabras Diet, surgem árvores realmente altas.
Córdoba é uma cidade grande e "globalizada", apesar de Carlos Reutmann o lugar é legal e parece uma Curitiba mal cuidada e sem as meninas bonitas...
Estou em um daqueles hotéis americanos fantásticos, oposto das "flea houses" dos últimos dias... o caso foi que fiquei sem $$$$ trocado, e precisava de um caixa eletronico.. Fáaaaaacil, só ir no shopping ultra chic que existe anexo ao hotel. Moleza!
Foi um choque horrível... uma manada de gente que não olha para outras pessoas e vaga de maneira muito mais burra que as cabras magrelas ou as Llamas... a somatória das vozes forma um ruído constante e indefinível que faz a ventania do altiplano parecer solo do Hendrix. Ninguem te olha nos olhos.
Maaaas... eu sou um Homo Sapiens-Iguatemi... melhor eu voltar à real por que é no shopping que eu consigo alimento e roupas... satisfaço minhas necessidades básicas ou supérfluas e encontro femeas para acasalar... no altiplano ou na linda costa rochosa eu não sobrevivo.
Faltam 360 dias para eu voltar à altitude, à puna e às pessoas maravilhosas que eu encontro no caminho.
O mapa do dia. Realmete o único trecho chato destas viagens é cruzar a maior parte do continente...
"He who does not travel does not know the value of men." -Moorish proverb
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