Texto e imagens revistas em abril 2018
Hoje (dia 23-02-2017) eu consegui acordar as sete horas da manha, e não as cinco!!! E o café da manha realmente valeu a pena! E enquanto ninguém olhava para mim, eu aproveitei e coloquei umas coisinhas (tipo frutas, dulce de leche e uns sandubinhas) na mala sem ninguém ver... não fiquei encabulado porque hoje é meu aniversário e eu mereço!!!
Hoje (dia 23-02-2017) eu consegui acordar as sete horas da manha, e não as cinco!!! E o café da manha realmente valeu a pena! E enquanto ninguém olhava para mim, eu aproveitei e coloquei umas coisinhas (tipo frutas, dulce de leche e uns sandubinhas) na mala sem ninguém ver... não fiquei encabulado porque hoje é meu aniversário e eu mereço!!!
Acima: Eu detesto andar com a moto assim, maiors várzea.. mas neste dia não tive altenativa. |
A equipe do hotel em córdoba foi fantástica, em uma conversa com o gerente ontem ficou claro que o caminho que eu programei me levaria a passar por mais um monte de vilas com muito transito, me aconselharam a usar a Sierra Cuadrado, que sai de Rio Ceballos (ao norte de Cordoba) e segue quase até La falda, Um estrada novinha em folha!
Uma pausa.... daqui a alguns dias, para uma etapa de dois dias, eu vou precisar de 55 litros de combustível, na Rocinante cabem “somente” 33l, o que já eh demais! Então eu preciso levar um reservatório extra. Até ai tudo bem... a parte preocupante é que nos postos de serviço por aqui eu não encontrei mais estes tambores...
Então a simpatica e bonitinha moça do hotel me indicou uma rua onde só há coisas para motos. Para não estender o assunto eu comprei o enorme reservatório vermelho e perdi pouco mais de uma hora nesta loja, tudo graças a um vendedor pra lá de lezado...
Córdoba está a 430m de altitude, a cidade está a leste de duas pequena (mas muito importantes) serras paralelas de se estendem de norte a sul por cerca de 250km. Estas serras dividem o solo fértil e o clima, separam a próspera agricultura no leste do gigantesco deserto que se estende do oeste até a cordilheira dos Andes.
Cordoba é uma cidade bonita, limpa e organizada. O melhor da Argentina está no interior! 10:15 Alt 430m. |
Foi chatinho sair da cidade em sentido norte, mas logo encontrei a grande autopista E53. Logo estava na serrinha, que graças a deus não passa por dentro de nenhuma vila.
Vejam pelas fotos, a serra lembra uma estrada no sul de Minas mas com asfalto mais que perfeito e com pouco movimento.
Acima : Saindo sentido norte pela E53 até a vila de Rio Ceballos 10:34 - 29°C |
Acima e abaixo: a fantástica serra entre Rio Ceballos e vale Hermoso, a estrada se chama Camino de Cuadrado. |
A estrada sobe até 1.300m, cruza a serra de Córdoba e desce até o vale ultra charmoso, entrando na vila de Valle Hermoso. O caminho foi coisa de 40km mais curto e com muito menos movimento que ou outro caminho, mais pelo sul.
A RN38 segue em direção norte, pelo vale formado entre as serras, após passar por várias vilas, a estrada vira para oeste até a pequena Cruz de Eje. A estrada segue pelo vale formado entre a Serra de Córdoba, à minha direita, com a Serra de San Marcos na minha esquerda. A paisagem é interessante pero non mucho, os picos mais altos chegam a 1.900m. Muito parecido com Minas Gerais na região entre Barbacena e Ouro Preto. Neste vale fica uma coleção de pequenas vilas que lembram cidades alemas, o vale todo é um lugar turistico, como a região de Campos do Jordão.
Logo encontrei a RN38. A estrada passa por dentro das vilas, com aquela interminável sequencia de semáforos ou cruzamentos perigosos. Logo cheguei à La Falda, outra cidade parasita da rodovia (11:00 34°C). Estas vilas são charmosas e sofisticadas, são o reduto de férias dos agricultores ricos deste pedaço.
Em La Falda existe um monumento turístico decadente e mórbido. Para que os chatos não reclamem que eu só falo de deserto, rochas e bichos exóticos, vamos visitar este controverso lugar e acalmar a oposição...
Pois bem, na simpática cidade (que lembra uma mistura de Campos do Jordão com Monte Verde) ha uma rua um pouco mais larga em direção à serra. Cerca de 500m rua acima, por um bairro com lindas casas estilo alemão, cheguei a um portão fechado que dava acesso aos jardins do Hotel Éden (alt.: 1.000m). Comprei o billete de acceso e parei a Rocinante em frente ao laguinho da fonte, só que em vez de encontrar lerdas carpas japonesas coloridas eu encontrei girinos fugindo de uma cobra...
O que este hotel tem de tão interessante? Bem, este lugar foi erguido nos anos 20 por uma família alemã chamada Einhorn, que tinha ligações com o partido nacional socialista alemão. Foi o grande e mais elegante lugar de veraneio fora da capital. O lugar foi frequentado durante a guerra por oficiais nazistas de uniforme e logo após a guerra por oficiais nazistas de pijama (que passaram a atender por Pablo, Juhan, Diego, Adolfo e etc.).
O curioso é que há os que insistem que Adolf Hitler não morreu em Berlin, e todos estes filósofos-de-botequim declaram que foi neste hotel (com alguns entediantes dias no Hotel Vienna, à beira do Mar Chiquita) que o abilolado-mor viveu seus últimos anos.
O tempo de tirar as fotos foi o tempo necessário para descansar e tomar um café no medíocre boteco que teima em funcionar no outrora elegante salão de baile.
Não há nada de marcante que mereça muita atenção, o hotel esteve fechado desde os anos 50 até 2015. Foi reformado com matérias nada ver com a arquitetura original e hoje serve para eventos e pequenas festas. O lugar é pequeno e estava coalhado de gente fazendo o tour guiado.
Em um dos salões, o único lugar onde encontrei o piso original importado da Alemanha... hoje totalmente ignorado. Naquele salão funciona um museu, o tema do museu são miniaturas do Batman, gordo e magro, cartazes de filmes dos anos 70, bonecos de plastico legítimo e um quinquilharia só!! Achei aquilo tudo pra lá de trash!!!
Acima: O inacreditavelmente tosco acervo de porcarias no museu do hotel!!!
abaixo: No museu um monte de bugigangas, mas existe ainda um pouco do piso original que veio da alemanha nos anos 30.
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Acima : a entrada do hotel com varias fotos de gente que nunca passou por la... as fotos dos oficiais em uniforme alemão foram retiradas...
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O calor e a barulheira (tocava Enya no ultimo volume) me espantou do lugar!!! Como o objetivo desta etapa é ir ao meio do nada, vejam um grande exemplo de um monumento sem importância nenhuma!
Consegui gelo para colocar na garrafa termica e decidi retornar à estrada. Quando eu estava me preparando para sair, passou por mim um grupo de velhinhos loiros... Eles olharam para minha barba ruiva, meu rosto vermelho e para minha motocicleta Bávara. Fui cumprimentado efusivamente em alemão!
Desci pela vila e logo reencontro a estrada. Continuei para norte, passando por outras cidades e semáforos demoradíssimos até a RN38 chegar a Capilla del Monte. Ali a estrada estava a 1.200m de altitude e começa a descer.
A mudança de geologia e vegetação é drástica! A estrada desce, com bastante movimento e começa a virar lentamente para oeste, contornando o final da serra de San Marcos. Perdi grande parte da manhã para andar 148 km, estava meio de saco cheio de cruzamentos e vilas, pensando se teria sido melhor seguir o caminho mais curto e menos cansativo, sem ter passado pelo “Hotel Lilli Marlene”.
Acima : Na vila de Capilla del Monte, civilizado e arrumado
Abaixo: Na RN38 rumo norte, a direita vemos a serra de cordoba. Esta importante serra segue por mais 120km para o norte.
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Tentei andar rápido, mas não consegui: ônibus, caminhões e os Fiats do século passado se arrastam pela Ruta 38. A estrada passa por dentro das vilas, com aquela interminável sequencia de semáforos ou cruzamentos perigosos.
A media horária baixíssima também me deixou preocupado. A boa notícia é que olhando em direção ao deserto, as nuvem desapareceram...
Logo a estrada vira para oeste e eu começo a entrar no deserto. Nas fotos se vê o bosque chaqueño na margem da rodovia. As árvores sobre o gramado são Chañares. Não se engane, o Bosque Chaqueño é feito de arvores baixas, de troncos retorcidos e finos, entre elas não ha outras plantas e o solo é de areia. Se remover esta vegetação, nada mais germina!
Acima: Na RN38 rumo oeste iniciando a descida para Cruz de Eje. repare nos Chanhares ao lado da estrada e noi terrível Bosque Chaqueño. 12:50 Alt. 650m 36°C |
Cheguei a Cruz de Eje (Alt.: 470km temp. 38°C) eram 13:00 Embora ainda exista muita vegetação do cerrado argentino, Cruz de Eje é um lugar seco e quente, típico do interior desértico argentino. Muito mais arrumado do que eu imaginava.
Encontrei logo de cara o melhor posto de gasolina YPF para abastecer, comer e comprar água gelada eumas Meia Lunas.. Andei só 165 km, com o tanque cheio chegaria até o hotel de hoje com sobra de 80km. Adorei encontrar os quitutes do hotel na minha mala!!!
Acima: Em Cruz de Eje, eu esperava um lugar mais tosco, mais pobre. Mas o lugar é bem próspero e organizado! Alt.: 480m 13:35. 37°C |
22km após Cruz de eje se chega ao ultimo lugar verde e fertil, a Villa de Sotto. Saindo da cidade a RN38 vira para noroeste para entrar no deserto rumbo a região mais inóspita e infertil da Argentina. Os chatos que reclamam do Chaco (entre Salta e Resistencia) precisam passar por aqui... è sem duvida nenhuma o segundo lugar mais agressivo e inóspito por que passei!!!
A meta daquele trecho era Patquía. Foram 201km de quase reta pelo deserto. Facil!!! É só imaginar que fui de São Paulo até São Carlos sem nenhuma curva... Mas para espantar o tédio eu ficava oservando a estrada para ver se achava algum animal ou inseto. Enquanto isso a temperatura suuubiiiiaaaa.
Acima : Em Villa de Sotto, um oásis bonito e até fertil.
Abaixo: Sem comentários, estas placas são ridículas! Não sei por que insisto em tirar fotos delas!!!
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Ja na parte desértica, a última vila na província de Cordoba se chama Serrezuela, que um dia foi uma importantíssima estação de trem. Não havia absolutamente ninguém na estrada e todas as casas estavam fechadas.
Até hoje me pergunto se o abandono era por conta da Siesta ou se não havia ninguem mesmo!!!
Acima e abaixo : Na vila de Zerrezuela, naõ resisti, fui verificar
a antiga linha de trem e as ruínas da estação!Eu tenho fascinação por ferrovias!
14:30 alt. 282m, 37°C
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Logo após acontece a fronteira com a província de Rioja, no meio do enorme e horrível Salinas Grandes (neste mesmo salar, na parte norte, fica a vila de General Mansilla, só andar pelo sal por 110km em linha reta!!! - vide o post do dia 2 de janeiro de 2012).
Dá para perceber o salar pela ausência de arvores e pela profusão de Cardones. O solo é de uma areia fina e branca. Passar pela fronteira de províncias foi fácil e tranquilo... Bem que eu queria ser parado para conversar com alguém.
Acima: Na RN38 após Serrezuela, começa o deserto mesmo. Na foto estava cruzando a parte sul de um gigantesco salar.
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Acima: 14:15, 205m de altitude, 39,5°C de temperatura, 85 km destde Cruz de Eje
Abaixo: A fronteira entre as províncias de Cordoba e La Rioja. Acontece no ponto mais baixo do Salar.
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O verde das fotos engana. O Lugar é beeem um deserto daqueles de filme, o solo é arenoso e existem árvores baixas , coisa de 50cm., e contorcidas pelo calor e falta de chuva. Não existem gramíneas. As plantas maiores estão muito esparsas, não ha muita variedade de árvores.
É quase tudo tomado por Chañares (Geoffroea decorticans), um arbusto que chega a uns cinco metros de altura, produz uma linda flor amarela e insiste em viver por aqui.
Não há pastos com gado nem cavalo e o que eu encontrei foi uma profusão de cabras desesperadas.
Acima: A RN38 sobe de 205m para 410m em Patquia, neste trecho são 145km com três curvas. A temperatura aqui chegou a 42°C, 15:00. Zero de vento e um silêncio mortal.
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A coisa toda assusta, mas o asfalto é perfeito e a estrada é bem cuidada. Eu tinha combustível de sobra e deu vontade de acelerar bastante, mas precisava poupar os pneus e me contentei com longos trechos a 110km/h. A temperatura oscilava entre 39 e 42°C.
A rodovia segue e cruza algumas vezes com o leito da antiga e importante ferrovia. Vi várias estações de trem que ainda estão de pé sem nenhum trilho ao redor. Isoladas e deprimidas, sem utilidade naquela imensidão. Foi um crime o que o Brasil e a Argentina fizeram com sua estrutura ferroviária!!!
Dei sorte: bem longe, em algum lugar no oeste, acho que perto de Nonogasta, aconteceu um gigantesco Cumulus Nimbus, Ele cresceu muito (como sempre fazem) e seu topo lançou uma sombra pelo vale escondendo o sol. A falta daquele sol direto à minha frente deixou o trecho menos agressivo e evitou que a temperatura disparasse dos 42°C... eu aproveitei!
Acima: Esta nuvem salvou minha tarde! Lá naquelas montanhas ao fundo fica Patquía.Eu deveria contornas aquelas montanhas por W, o lado esquerdo na foto. |
Foram 160 km em uma reta quente e monótona até Patquía (Alt.: 476m), já na provincia de La Rioja. Na entrada da vila existe um posto de gasolina com um mercadinho péssimo e quente. Parei para agua e para buscar um pouco de gelo para minha fantástica garrafinha térmica.
Ali conversei com um rapaz que me confirmou o roteiro de estradas até Rodeo. Novidade: a partir de Patquia o GPS não entendia nada das estradas...
Acima: Some o solo de areia branca com sal e surge este solo vermelho da decomposição do arenito andino, não se engane, continua desértico.
Em Patquía eu deixei a RN38 e segui rumo sudoeste pela RN150. A RN150 é a grande estrela de um projeto chamado "corredor bio-oceanico", uma rota que um dia ligará Cordoba ao porto de La Serena no Chile.
A estrada é larga com asfalto velho. O lugar é bem esquecido. A estrada sobe ate 1.400m, passa por uma serrinha apertada e entra em um magnífico vale a 1.200m de altitude. Posso dizer que ali começou mais uma parte agressiva e esquecida do deserto, e a minha alegria!
A rota vira para nordeste e entra no vale de Talampayo, existe uma serra alta a minha esquerda e lindas montanhas à direta. Naquele lugar começa a parte sul do Parque provincial de Ichiliguasto, com o objetivo de preservar uma região geologicamente interessantissima e por onde foi construído o novíssimo trecho da RN150.
Entrando no vale de Talampayo, existe uma serra alta a minha esquerda e lindas montanhas à direta. Naquele lugar começa a parte sul do Parque provincial de Ichiliguasto, com o objetivo de preservar uma região geologicamente interessantissima.
O caminho ganhou altitude homeopaticamente, e com a altitude perto dos 1.300m contornou algumas pré cordilheiras antes de encontrar com a RP76 que vem do norte, do Paso Pircas Negras. Aqui justamente começa o novo tramo da RN150, construido para integrar o "Corredor Bio Oceânico Agua Negra" que será concluído (...se deus ajudar muito...) com um túnel sob os andes até o Chile... Fácil não???
Justo neste trevo havia um comando da Policia Caminera, parei sem que o policial ordenasse e aconteceu, mais uma vez, uma ótima conversa. O policial garoto de tudo me confirmou todas as distancias que eu tinha na cabeça mas que o GPS ignorava. Foi, como sempre, muito bom conversar com eles!!!
Nestas fotos, a passagempelo magnifico parque nacional Ischigualasto, Maravilhoso! A RN150 neste trecho é novíssima! |
A RN150 entra no Parque Ischigualasto começa a subir. Começaram a aparecer lindas formações naquela rocha sedimentar vermelho vivo, típica das pré cordilheiras, algumas muito bonitas.
A minha direita surge a serra de Cordón de Famantina, onde fica o pico Gen. Belgrano e a cidade de Chilecito. Na verdade o lugar está a 140km de distancia, mas como é monumental já dá para ser avistado! A Imagem é linda!!! À frente eu já percebia claramente a Cuesta de Miranda a última pré-cordilheira antes do maciço central andino.
Após o espetáculo dos morros vermelhos, a novíssima estrada serpenteia por 20km em um lugar chamado vale de la luna. Um lugar impressionante feito de uma horrível rocha cinza, lembra ardósia. Apesar das rochas estranhas, o caminho é impecável, moderno e maravilhoso!
A altitude chega a quase 1.500m e a temperatura caiu para 34°C, beeeem mais confortável!
Apesar da estrada nova padrão europa, com modernos tuneis e viadutos, eu não conseguia manter uma média horária apropriada para a distancia daquele dia... A serra despenca de 1.380m para 740m de altitude e entra em um amplo vale, sentido oeste até a cidade de Huaco. Dava para ver as montanhas que separam o oásis de Huaco daquele vale desértico. Linda a visão do colossal (e infernal) vale!!!
Acima: na parte baixa, após a descida do Parque Ischigualasto, são cerca de 50km pelo lugar mais quente, desértico e abandonado que eu passei. 18:15 Alt 840m 39°C |
Para cruzar este imenso vale se percorre coisa de 50km até chegar na vila de Huaco. Neste trecho a nova estrada usa viadutos para passar pelos rios.
Aliás, vamos definir o que é um rio nesta região. Os vales férteis, ou não, foram formados por riachos que passam a maior parte do ano secos, só se vê o leito rochoso deles. Como a maior parte do solo por aqui é de rocha impermeável, a água da chuva ou do degelo da primavera não é absorvida e inunda todas as partes baixas.
Mais para frente encontraremos vários pontos em que estradas pavimentadas passam "por baixo" dos rios, quando eles trazem água. São raros os viadutos.
Aliás, vamos definir o que é um rio nesta região. Os vales férteis, ou não, foram formados por riachos que passam a maior parte do ano secos, só se vê o leito rochoso deles. Como a maior parte do solo por aqui é de rocha impermeável, a água da chuva ou do degelo da primavera não é absorvida e inunda todas as partes baixas.
Mais para frente encontraremos vários pontos em que estradas pavimentadas passam "por baixo" dos rios, quando eles trazem água. São raros os viadutos.
Aquele pedaço de cerca de 50km foi sem dúvida nenhuma o trecho mais agressivo, inóspito, desértico que eu passei até aquele dia!!!
Naquele trecho a temperatura me castigou! Ficou entre 40°C e 41°C, com o sol já baixo e queimando meu rosto. O fundo do deste vale está a 780m de altitude. Pouco antes de Huaco, a primeira vila-oásis que acontece na encosta de uma pequena pré cordilheira, a RN150 ingressa na mítica RN40.
Ali eu poderia ter seguido para oeste, cruzado a serra e encontrado a vila de San José de Jachal, mas não tinha informações críveis sobre a qualidade da estrada sobre a Cuesta de Huaco e resolvi seguir o caminho mais longo e mais fácil, contornando as montanhas pelo sul. E o GPS sem a menor noção de onde ele estava...
Com certeza seguir pelo sul pela RN40 foi um trecho seguro até San José de Jachal (18:50 41°C). Pronto, acumulei mais 34 km por La Cuarenta (leiam o post do dia 28 de abril de 2014 para entender a minha paixão pela RN40!)
San José de Jachal (Alt.: 1.197m) é um grande oásis (30km N/S; 10km E/W) com uma importante agricultura, um daquele lugares que foram abençoados por Pachamama (a deusa do tempo dos Incas, encarregada de propiciar fertilidade à agricultura e às moças...).
Acima, parado no posto em San José de Jachal, eta buteco podre... Alt: 1172m 19:50, 35°C
Abaixo, deixando Jachal e entrando na terrível RN150 até Rodeo
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Jachal seria minha parada de alternativa naquela tarde, ja tinha andado 670km e eram 19:55 da tarde, a temperatura caíra para 28°C e eu estava começando a me sentir cansado.
Parei em um posto de gasolina somente para água e uma empanada de queso. Havia muito combustível na Rocinante e eu decidi seguir os últimos 42km até meu hotel em Rodeo. Foi um erro, deveria ter buscado uma pousada em Jachal.
Logo após Jachal a RN150 sobe por um canion na Sierra Los Azules - ou sierra del viento. A estradinha é arqui-péssima! Quarenta e sete quilômetros de um caminho estreito e traiçoeiro, sempre sem acostamento e guard rail e quase sempre sem pintura. E há movimento de ônibus e coches entre Jachal e Rodeo, tive que andar devagar e com muita calma. Não posso dizer se é bonito, o sol estava se pondo, havia uma névoa de poeira por tudo e eu não podia desviar a atenção do caminho! Fui buzinando muito! E foi cansativo!
O canion da Sierra Los Azules acaba e me deparo com o lago formado por uma represa. Estava a 1.600m de altitude, olhando para oeste quando reencontrei a parte principal da cordilheira dos Andes. A cordilheira não parecia alta com seus picos de 5.000m. No céu ja escuro, olhando para oeste, eu só vi com clareza todas as nuvens da tempestade que aconteceu ali naquela tarde.
Rodeo (alt.: 1600m), está á beira do lago formado por uma usina hidroelétrica, é uma espécie de resort para esportes aquáticos no deserto. Pelas informações da net parecia ser um lugar badalado com monte de gente jovem (e muito Tetazo), foi dificil reservar um quarto a um preço decente! Vejam pelas fotos e tirem suas conclusões...
Foram 670 quilômetros fáceis e gostosos, em um dia lindo. Só como curiosidade, estou na mesma latitude de Porto Alegre, portanto os dias são pouca coisa mais longos. A noite chegou, e com ela o vento fresco de março (24°C).
Estava muito escuro... As nuvens altas cobriram a lua e as estrelas. Demorei para para encontrar o meu hotel na vila (21:20 24 °C alt.: 1.650m), calma e ligeiramente abandonada. As árvores deixaram o começo da noite totalmente escuro. eu estava entusiasmado porque a pousada parecia ser excelente e eu tive muito trabalho para arrumar uma vaga naquele lugar.
Até aquele momento tudo tinha corrido perfeitamente, a crise começava naquele momento.
Só cheguei na Posada 50 Nudos porque eu tinha decorado o caminho (terceiro cruzamento desde a rodovia, a esq, no final da calle), a vila não é nada do que eu estava esperando e eles mentiram no mapa de localização. As placas indicativas da pousada estavam caídas no meio do mato em ruas estreitas sem pavimento. A noite não estava clara e as arvores altas da vila deixavam tudo muito escuro. Demorou para achar o lugar que fica no meio de um sertão fidamãe!!! Isto aqui é um abandono total!!!
O lugar era um lixo, apesar da pouca luz difusa dava para perceber que as peredes de adobe estavam velhas e as janelas em petição de miséria!
Por conta do roteiro, era importantíssimo para mim ter uma base sossegada por dois dias, e eu tinha escolhido aquele lugar. O gerente limítrofe me levou a um quarto amplo, tres camas em uma grande mesa, comecei a desmontar minha bagagem e a procurar tomadas para carregar as máquinas. Mal liguei o computador, e percebi que não havia internet, foi quando o ser entrou no meu quarto (sem eu autorizar) e começou a me mostrar seu calendário de reservas dizendo que minha reserva era para o dia 23 de março. Chequei a minha reserva e ela era mesmo do dia 23 de março, havia um engano, e eu deveria pagar 860 pesos.
Eu imediatamente fui para a página do mes de fevereiro e lá constava um quarto vago para aqueles dias. Então eu mostrei para ele que ficaria os dois dias no quarto em que eu ja estava e que pagaria os 860 pesos... ele verificou, estudou o calendário e consentiu.
Tentei em vão usar a internet, não existia. Perguntei sobre o restaurante e fiquei sabendo que também não existia. Estava cansado, ja tinha tomado banho (banheiro horrivel) e não estava com vontade de ir à vila para jantar. Eram quase 22:00. Tudo no lugar era uma farsa e não tinha nenhuma semelhança com a descrição e fotos no site de reservas.
Não ha comida e água vem da torneira. O meu jantar de aniversário foram os sanbubinhas do café da manha e a água que eu sempre carrego aos montes!!!
Posada 50 nudos: O começo de uma crise que eu não merecia. De longe o pior lugar que eu ja parei na minha vida. O gerente um alucinado mentiroso! |
Eu estava quase indo dormir quando o gerente-lezado invadiu mais uma vez meu quarto e declarou que vendeu meu quarto de amanha via internet (óbvio que por um preço alto) e queria me remover para "una cabaña qui tenimos"... O bicho pegou e a discussão foi brava... maior barraco...
Decidi que na manha seguinte eu fujiria dali e iria deixar muita reclamação sobre a maneira com que fui tratado. Relamente deixei criticas negativas com fotos da espelunca em tudo quanto era site!
Eu precisava de internet para publicar fotos e avisar que eu estava bem. Nada disso. O projeto para o dia seguinte será gastar a manha em busca de outro lugar para ficar, e esperar que o projeto do dia 24 não fosse arruinado.
Eu estava cansado e irritado quando comecei a escrever este post, mas agora mal consigo manter os olhos abertos!
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