sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Morro acima - Paso de Agua negra




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Only if you have been in the deepest valley, can you ever know how magnificent it is to be on the highest mountain.- Richard Nixon






Há uma polêmica de botequim sobre qual é o Paso mais bonito nos Andes. A grande maioria só conhece o fácil Cristo Redentor (clique aqui: Paso cristo redentor). Outros foram abençoados em passar pelo Paso Jama em um dia de sol (clique aqui: Paso Jama 2010  ou paso Jama 2017). Os viajantes realmente cabrones que eu admiro se dividem entre o Paso de San Francisco (clique aqui: Paso San Francisco) e o Paso de Agua Negra. (para resumo dos pasos andinos, clique aqui: resumo pasos andinos)


Então para tirar esta dúvida, hoje foi o meu dia de experimentar o caminho pelo Paso de Agua Negra!

Resolvi a crise de habitacion (Fugi da medíocre pousada 50 nudos em Rodeo, a
rrumei um quarto em uma casa de família na vila da Las flores, deu muito trabalho mas encontrei) eram quase 10:00 e estava sendo tratado como um rei pela Señorina Victoria Abache. Uma casa humilde, limpíssima e ultra aconchegante. passei dois dias lá pertencendo À familia dela

Talvez um dia eu conte todo o rolo de ontem a noite e de hoje de manha para sair de um hotel-arapuca e de um gerente sem vergonha (posada 50 Nudos? evite!!!  um lixo!!!).

Em Las flores [alt.:1.879m 11:50   24°C] ha um ótimo posto de gasolina, eu tinha cerca de 90km restantes de autonomia, calculei o que iria andar naquele dia, mais margem de segurança e coloquei somente 10 litros de combustível. Como o café da manha na pousada-aloprada em Rodeo foi a definição de horror, eu aproveitei para tomar um café da manha de gente na lojinha do posto, la haviam duas mocinhas bonitinhas que ficaram me paparicando e preparam um sensacional chocolate quente com café.




alimentação nutritiva dos bravos descobridores andinistas!!! Com direito a bebida caliente na garrafinha térmica.






Acima: estrada em obras e o começo do rípio... Ao fundo o bloco central da cordilheira, repare nas nuvens coladas nas montanhas.   


Abaixo: regulando a moto para andar fora do asfalto.





Acima e abaixo:  Nuvens na cordilheira, eu ja esperava por isso...    





 Abaixo:  No posto da gendarmeria, uma ótima conversa, como sempre!!! alt.: 2.949m




















A ideia era subir a cordilheira com a moto bem leve (só carreguei uma mala... o resto ficou com a gentilíssima Señora Victorina). Logo virei para oeste e parei na pequena aduana argentina, que fica logo quando a cidade acaba. 

Este Paso só está aberta por 4 ou 5 meses no ano, só se pode atravessá-lo entre outubro e abril, confesso que estava com medo de estar fechada por conta das tempestades de fevereiro. 

O Chile estava nos planos originais. Aconteceu que eu perdi o entusiasmo de subir a costa do pacífico pela pasteurizada e modorrenta Ch5, e à medida  em que eu desenhava este roteiro, mais eu achei graça nos caminhos pela Argentina, os caminhos difíceis por onde muito poucos passam. 

Havia uma certa confusão e muito movimento na fila da aduana, era carnaval e a estrada estava cheia de turistas. Descobri que estava na moda ir ao Chile, pegar praia e hacer compritas, portanto a aduana estava com filas enormes de argentinos y su coches

Contornei a fila e estacionei a moto. Fui abordado por uma senhorita baixinha meio azeda. Então expliquei à jovem e gorduchita oficial na aduana que eu somente iria até  o topo da montanha e depois "volveria a mi querida Argentina!Foi só falar mal dos chilenos para que eu fosse tratado como hermano e com sorrisos. A Gordichita sorriu, me abraçou e me mandou sair, desde que retornasse antes das 17:00.  Foi enfática: "La aduana se cierra a las cinco"!!! 

Me alertaram sobre lo hielo no piso. Nos três dias anteriores choveu bastante e a temperatura baixou muito. Havia uma grande chance de não me deixarem entrar naquele trecho! Vejam as fotos e reparem na tempestade sobre a cordilheira

Saindo na aduana e voltando para a estreita ruta, segui por um platô em aclive. O lugar   - RP150, estava totalmente em obras e em vários lugares o acesso foi por desvios laterais. Da Aduana até o começo do asfalto novo foram coisa de  28km nos quais se sobe até 2.800m.  

Neste trecho a estrada segue perpendicular à cordilheira principal, rumo oeste, se vê com muito destaque a grande parede de montanhas que me esperavam. Deu frio na barriga! A medida que eu me aproximei da cordilheira, a sensação é de que as morros são baixos e que o caminho é simples. Durante o trecho em obras, eu parei a moto, tirei pressão dos pneus e recalibrei a suspensão para o pouco peso e estrada de rípio.  

O rípio da obra de repavimentação começou com uma ótima surpresa: tranquilo e largo. Os pneus me surpreenderam com a estabilidade e segurança da moto. Consegui uma média bem maior do que os 30km/h que eu estava acostumado. Parei na Gendarmeria (alt.:2.949 ; 17,5°C - 35km depois da aduana) para o papo mole de sempre e para saber da estrada. Indiretamente avisei: “estoy entrando por acá... No me olvides!!!".


Coloquei os casacos mais quentes porque eu sabia exatamente o que iria encontrar em poucos minutos.

Eu estava esperando somente 30km de asfalto, mas o trecho depois da gendarmeria está totalmente novo e construído em asfalto com as serras em concreto. Foi uma ótima surpresa, mais uma estrada novíssima e fantástica.

A geologia logo ficou familiar e eu sorri matando a saudade deste lugar único. As rochas que uma vez foram fundo de mar mostram várias cores, seus estratos muito bem definidos e todos inclinados. E também havia a já costumeira falta de vegetação. Pronto: estava de volta ao meu playground! Algumas vária Llaretas e as simpáticas Ichus (Stipa ichu). Eu sorri muito por dentro do capacete!

Logo começou o que eu estava vendo desde a aduana, a chuva gelada e forte.

As encostas que formam os vales são muito inclinadas e as montanhas são altas. À frente e à minha direita eu via os picos nevados de rocha vulcânica que formam a crista de cordilheira e a divisa entre os países. Parece claustrofóbico, mas é monumental!

E a estradinha, na verdade um trecho novo, pavimentado em asfalto e concreto, subiu seguindo pelo deserto absoluto e fomos, eu, Rocinante a as câmeras a uma velocidade confortável. Logo estava a 3.719m de altitude e a temperatura caiu para 6,5°C. Naquele ponto acabou o fantastico pavimento de asfalto/concreto que foi prontamente substituído por pedras e lama...   o fantástico rípio que afugenta os rarlêros!!!!  A camada de nuvens clareou no caminho à frente, a chuva parou e a estrada seguiu por um bom trecho seco. 



Abaixo: altitude,chuva, frio e lama. Onde estão os rrarlêros do motoclube???





Acima: faziam cinco anos que eu não via uma LLareta!Abaixo: Eu e Rocinante (fazendo pose de ditador coreano), repare que o piso secou e havia ameaças de céu azul...











    
Acima:  Aqui, um dia, começará o túnel sob os andes que levará à praia chilena...  Tipo da obra fácil!!! Alt.: 4.095m


Abaixo: o caminho segue e o clima engana!





















Nos próximos 30 minutos surgiu um aviso: à medida em que a altitude subia, a temperatura também subia (isto se chama razão adiabática negativa) logo estava 400m mais alto e com 11,5°C. Eu sabia que este fenômeno, junto àquelas nuvens era mau sinal...


E fui subindo, devagar e com cuidado, a coisa é facil mas apertada. Meu único medo eram os boludos do boca juniors descendo a estrada sem nenhum bom senso...  


Acima:  Aqui começa a parte mais impressionante da subida.Alt.: 4.427m



Acima:  Êêêta estradinha apertada. A fantastica combinação de barranco com precipício!

Abaixo: 13:35, 4.542m de altitude, 81,5km depois da vila.

























Acima: café caliente, um privilégio! Repare na total falta de vegetação.

Acima: Não sou tão heroico assim...  esta garrafa de oxigenio me ajudou bastante!





























































Quando cheguei a 4.400m percebi que o vale terminava logo à frente e que a estrada agora seguiria por caracoles na fralda de uma enorme montanha, subindo até a fronteira. Pelas fotos eu imaginava que o lugar era amplo com considerável distância entra as montanhas. Na verdade o lugar é uma garganta dos diabos, com 1.500m de diferença entre o vale e o cume das montanhas! Eu não esperava algo tão bonito! 


Fui aprendendo a pilotar com aqueles pneus na terra e em vários moimentos na lama. Eu nunca senti tanta segurança antes! Incrível.


Os caracoles da estrada são aflitivos: se eu me perdesse ou eu batia no barranco ou deslizava até o fim do vale. Buzinei várias vezes em algumas curvas... Por precaução e para ouvir o eco! Coisa de silvícola paulista que buzina em túnel.


Por estar ali no auge das tempestades do fim do verão, eu não esperava muitas capas de gelo. MAs tive a grande sorte de ser abençoado por penitentes muito altos!!! Este gelo delicado não é formado por neve ou chuva, ele simplesmente acontece capturando a pouca umidade que o vento traz do oceano (que está a somente 150km em linha reta a oeste). Por conta da direção do vento e do calor de Inti, o gelo forma pontas, que se parecem com monges rezando, daí o nome: Penitentes!




Los Penitentes: Que linda surpresa encontrá-los tão altos!!!

Abaixo: foto tirada por uma das lindas adolescentes...  
























Fiquei muito tempo parado ali (4.585m 6,5°C), Varios carros pararam por ali.... entre eles um casal extremamente simpático e outro com uma familia de argentinos com várias adolescentes lindinhas!!!! E foi uma festa de fotos!!! A neve nos alpes europeus é bonitinha... Mas isso aqui é magnífico!!!


A montanha que dá o nome ao lugar (Cerro Agua Negra) é enorme, imponente e fica logo ao sul da estradinha, debaixo de uma nuvem grossa!!! Cheguei na divisa Argentina-Chile eram 14:30, um vento muito forte vindo do vale e a temperatura de 3.5°C... 

Altitude de 4.780m. Eu estava mais do que a vontade, bem agasalhado e só sentindo o frio queimar as bochechas e a ponta no nariz. 


Fiquei me divertindo naquele fio e vento, e sileenciooo.  Minha previsão estava certa: aquele comportamento estranho da temperatura trouxe uma tempestade de gelo (não era neve, eram pedras pequenas), vento muito forte e a temperatura caiu para 1,5°C. Eu feliz parecia criança em tanquinho de areia!!!

No Paso existem as placas de sempre e alguns monumentos bem bobos. So havia um casal de amigos parados e ficamos numa ótima conversa! Nenhum motociclista. O grande monumento era sem dúvida o Cerro Agua Negra e a combinação rocha/céu/gelo e muitas nuvens.

Estacionei com cuidado bem fora da estrada e me dediquei ao café com leite quentíssimo e a um nutritivo salgadinho sabor Queso. Eu me sentei em uma pedra, ajustei as câmeras, resgatei o binóculo de dentro do casaco e tirei o capacete para apreciar melhor o banquete. Não deu três minutos e o capacete voltou para a cabeça: tudo doía com o vento gelado e as pequenas pedras de gelo machucavam.

Fiquei mais de uma hora ali com o binóculo olhado para tudo. Nada se movia, o céu é de um azul inigualável quando aparecia entre as nuvens e as rochas brilhavam quando o sol aparecia. 

Como eu dormi ontem a 1.800m os efeitos traiçoeiros da Puna não estavam me afetando muito...  ou estavam? 

Por que será que eu gosto de estar em um lugar congelante, sem nenhuma vegetação, a quase 5.000m de altitude e pasmo com qualquer morro cor de rosa que eu vejo?

Eu sou assim mesmo ou será o mal da altitude?



Acima: Esta é a vista para oeste, a descida no lado Chileno.

Abaixo: Cheguei!!!


























Acima: Imagens na fronteira: Frio, muito vento, gelo. É sempre um lugar mágico!!!















































Acima; O verdadeiro andinista só carrega alimentos saudáveis e naturais....

Abaixo: Começando a descida e aprendendo como se anda morro abaixo.































Perdi a conta do tempo que quando percebi eu tinha somente uma hora e vinte para descer e chegar à aduana!!!   Comecei com calma e aprendendo como se anda pirambeira abaixo com aqueles pneus...  Um excelente treino.  O tempo piorou e a chuva reapareceu, a temperatura nao aumentava muito à medida em que a altitude baixava. Culpa da falta de sol...

Lá pelas tantas surgiu uma placa dizendo que a aduana estava a 55km, portanto eu deveria fazer uma media de 62km/h para chegar lá as 17:00!!! 

Então meu amigo, eu tive que aprender a andar rápido naquele rípio encharcado!!! Assim que a ladeira ficou menos íngreme eu me vi andando a 70kmh na terra! Tudo graças aos pneus. Eu nunca me imaginei andando tão rapido fora do asfalto!!!!




















Acima e abaixo: Durante a descida um outro clima e outro visual. 














































Passei pelo posto de policia eram 16:30, portanto a média minima teria de ser de 60kmh o que foi muito facil!

Cheguei na aduana as 16:58, 26°C. Havia uma enorme fila, a qual eu prontamente furei. O oficial veio falar comigo puto da vida... Contei meu caso para o guarda, mencionei a moça que me orientou.

Quando algum chileno buzinou para protestar sobre meu fura-fila o guarda começou a me tratar bem, conversamos animadamente e ele me mandou procurar a tal oficial gorduchita, isso com nós dois às gargalhadas!!! 











































Acima: No imenso vale onde ficam Rodeo (lugar péssimo) e Las Flores (lugar legal). Bem ao fundo o bloco de montanhas se chama Cuesta del Viento, atrás desta cuesta fica o vale e San J. de Jachál; 

Deu uma certa tristeza ou saudade do dia de hoje... Eram 17: 20 quando desliguei a moto na garagem. Mas antes, por conta de um degrau que eu não vi, eu derrubei a moto!!!  

Foi o grande acidente da viagem e foi divertido levantar a moto com o Franco , o simpatisíssimo filho da Señora Victorina!






















Abaixo: O mapa mostra o caminho, mas o asfalto segue por uma excelente estrada até cerca de 40km do paso. Caminho fantástico!































O mapa acima mostra o início da etapa em Rodeo, onde dormi ontem na pousada-largada, nesta noite durmo em Las Flores, na aconchegante casa de la señora Victorina.

Para quem quer passar pelo Água Negra, evite a vila de Rodeo, use a vila de Las Flores, além de mais perto, muito mais gostosa e honesta!!!! A Posada 50 Nudos em Rodeo é um horror e seu gerente um alucinado mentiroso! Dedico um bom tempo deixando avaliações negativas daquela espelunca em todos os sites de viagem.














                            Etapa de hoje:  200 km
Tempo andando: sn
Tempo total: sn
Distância acumulada: 2.383 km



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