quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Levando a moça (quase até) até a Argentina, mais uma vez.




Eu sabia que este dia seria longo e cansativo...



Acordei muito cedo e entusiasmado!  Fui o primeiro hóspede no café da manha, tomei emprestado do farto buffet tudo o que eu consegui carregar. Uns sanduíches bem gordos, frutas e até um iogurte. Principalmente suco de laranja gelado inaugurando a queridíssima garrafa termica de aço!

Fiz os procedimentos de check out, montei a mala que restava e pulei em cima da Rocinante... Mal podia esperar para chegar à Tierra del Tetazo!!


Acima: No estacionamento do hotel... beeem cedo, antes do café da manha...


Acima: transito movimentado... o pouco de céu azul logo sumiu!  


Estranhei muito o comportamento da moto e o barulho que os novos pneus fazem. Cada uma destas viagens consome um jogo de pneus. Nas etapas anteriores eu fui “calçado “ com pneus muito bons para asfalto mas ruins para terra. 

Como veremos eu planejei muitas etapas por estradas dificeis no terrível Ripio, então desta vez estava com um jogo de pneus médios para asfalto e bons para terra. 

O preço a ser pago é mais instabilidade e ruído no asfalto. Se o preço a ser pago é somente mais instabilidade e ruído no asfalto eu estaria feliz... 



Acima: Adeus Porto Alegre!  transito de uma manha de dia útil ao cruzar a querida ponte do Guaíba.























Por volta de sete e meia da manha  eu cruzei a ponte pelo rio Guaíba, o céu estava coberto por nuvens baixas e estava quente, 26°C. Alguns km depois eu tomo a saída pela direita, sentido à Encruzilhada do Sul (BR290 - vide 26 de agosto de 2012). 
















Acima: Eta estradinha difici!!!  Lotada, estreita, sem as faixas. Estava chuviscando e sem cores....  


Nesta viagem eu tenho dinheiro e tempo contados. Nada de passar lindos dias andando lentamente pelo Chuí, por Puta del Este e pelo querido Uruguay. Portanto eu resolvi seguir  via Uruguaiana entrando na Argentina em Paso de los Libres, onde estive em 1997.
  
O problema é que para manter a integridade destes estranhos pneus eu devo evitar velocidades acima  120kmh.  O que torna as etapas de deslocamento  uma maratona sem fim !  


Estes pneus são minha aposta para conseguir 

cumprir longas etapas em rípio. Se chover ficarei mais feliz: os pneus no molhado se desgastam menos porque trabalham mais frios. Mais uma variável para ter que administrar...



Acima: Uma linda manha... Pneus esquisitos. Transito, carretas, chuva e estrada estreita... 





























O caminho que vai a Uruguaiana  pelo interior do Rio Grande do Sul, via São Gabriel e Rosário do Sul é lindo! Isto em um dia de sol...   o tempo foi se fechando e por volta das 08:45 começou uma chuva que não me molhava muito, mas deixou o asfalto ensopado, o que foi ótimo! 

O transito foi intenso até 220km depois de Porto Alegre. A minha media horaria foi de cerca de 84km/h, bem abaixo dos 95 planejados.

Apesar dos novos (e estranhos) pneus, a viagem foi gostosa. O clima era quase o que eu esperava, as nuvens se dissipariam a partir das 12:00 e lá pelas 16:00  a chuva iria engrossar.


Realmente era uma linda ideia seguir via Uruguaiana. É um caminho muito legal, muito fácil e confortável mas que mostrava nuvens muito pretas e chuva em seu horizonte. Eu estava começando a ficar sem bom humor para chuva e piso molhado.

Passados  370km, parei para água e alguma comidinha antes da entrada da cidade de Rosario do sul. Só um surdo não via que o ceu se abriu para o sul e para onde fica a fronteira uruguaya, mas o caminho para Uruguaiana (que fica no Brasil, fronteira com Argentina) estava beeeem sombrio e molhado.


Acima: Olhando para o sul, repare no pouco mas convidativo céu azul para o sul, rumo Rivera.




















Até então foi tudo tão tranquilo que eu resolvi inserir um pouco de “inesperado e não planejado” no molho deste dia. 

Até o confortável hotel em Uruguaiana seriam mais fáceis 285 km, coisa de tres horas, seria muita moleza (apesar da chuva...). Resolvi sofrer um pouco e seguir para Santana do Livramento, atravessar a fronteira em Rivera e me embrenhar do pampa Uruguayo. Mal pus o pé na estrada e já estava procurando sarna para me coçar.


A estrada rumo sul estava seca, quase ensolarada e quente. Foram gostosos 80km até a proxima cidade, fronteria com o sonolento Uruguay.


Rivera é talvez a cidade mais alta daquele pequeno e simpático país, fica em uma região de montanhas arredondadas a 250m de altitude (tão montanhosa como Itatiba SP...) é também um porto livre e agora a cidade está coalhada de lojinhas tentadoras e grandes dutty free. Cheguei na cidade eram 13:40.


O centro da cidade continua bem pobre e desorganizado. Transito meio caótico.



















Acima: Balcão que reúne as duas aduanas. 

  A aduana não fica mais no pequeno edificio verde na praça central, agora fica instalada dentro de um shopping Dutty free!  Bem conveniente: entre no país e gaste na linda loja. 

Foi muito difícil conter os impulsos consumistas. A parte chata foi carregar a mala central...  ela fica presa na moto com travas sem a menor resistência a curiosos e amigos do alheio, portanto a levei para a aduana.

Feitos os procedimento de saída (uma velhota chata e ranzinza) e de entrada (uma moçada alegre e educada), resolvi brindar a loja de dutty free com minha presença... Eu resisti: saí de lá só com uma lanterna (tenho mania delas), um protetor solar e umas comidinhas extremamente saudáveis e nutritivas.


Comi na praça de alimentação e às 15:00 estava na Rocinante para a terceira de 4 etapas daquele dia. 


Mas antes tive que passar no centro da cidade para comprar um ridiculo jaleco reflexivo que a policia caminera exige.  Vesti o tal jaleco cor de limão siciliano e saí por aí com ele tremulando nas minhas costas....  tipo priscila-rainha-dos-pampas...  

Segui em direção sul, pela ótima Ruta 5 que passa por grandes plantações de Pinus. Sol e 30 graus, um trecho vazio, gostoso e relaxante. Segui o caminho por somente 115km (exatamente uma hora) até a capital da província de Tacuarembó... Por onde passei ha dezenove anos, o lugar continua o mesmo... 






Acima: Divisa entre os países!!! entrando em Rivera, agora com sol. 



Este pedaço eu já conhecia, em junho de 1997 eu e um amigo tiramos sete dias com a única missão de andar pelo interior do Uruguay de moto durante dias gelados e sem nenhuma nuvem no céu. 


Acima e abaixo: Rumo sul, logo depois de Rivera, 
repare nas montanhas, algo raro no Uruguay!Pelo retovisor da para ver um pouco do ridiculo jaleco.




























































































A ideia original, planilhada durante o almoço no dutty free, era seguir para Salto, uma desconhecida e obscura cidade, à beira do rio Uruguai e fronteira com ArgentinaUm lugar importante, mas ninguém passa por lá. 


Parei em Tacuarembó para comprar agua e hacer preguntas. Fui aconselhado a não seguir por Salto e ir direto à Paysandú, uma cidade importante. Então saí de La capital Tacuarembó [16:40   30°C] e  segui sentido sudoeste pela R26 que vai até Paysandú. A estrada era melhor, pero non mucho.





Acima: rumo oeste, repare que para o sul o ceu estava claro e lindo, mas a estrada 
insistiu em entrar na tempestade. Parei e não coloquei a fantasia de chuva.


Abaixo: depois de uma tempestade daquelas eu estava encharcado, gelado e cansado. 
Repare no piso que piorou muito, até se transformar em uma incerta estrada de terra/lama.






A chuva me pegou.  Não parei para colocar a jaqueta impermeável, eu sabia que a chuva duraria pouco e logo viria o indescritível o prazer de sentir a roupa se secando no sol. 

Eu via o final da chuva, mas as nuvens me pregaram uma peça:andei por muitos km extamente entre o inicio do céu azul e da chuva, até que a estrada entrou de vez na tempestade. Foram quase 100km debaixo de chuva forte e vendaval com a temperatura oscilando entre 26°C e 21°C. 

Não foi nada fácil e não tinha onde parar.  A chuva cessou e daí surgiu mais uma crise: os geniais uruguayos resolveram recapear a estrada e para tanto removeram todo o piso de asfalto!  A coisa alternava entre asfalto medíocre e terra compactada, que com a chuva virou uma lama. 


Os pneus me surpreenderam, consegui andar naquele piso com muita segurança!  nem parecia a mesma motocicleta!  Muito bons mesmo!







 

Entrei na cidade aliviado de ter cumprido o trecho mais chato, longo e inseguro desta viagem, daqui pra frente, om proximos dois dias, serão faceis e mais quentes.

A cidade me surpreendeu! É rica, bonita, arrumada!!! Sempre foi um porto muito importante

Cheguei no meu ponto final as nove horas da noite.  843km desde Porto alegre. 

A cidade se diz uma das mais importantes do Uruguay. Quem sabe por conta de seu porto, onde aconteceu uma importante batalha em 1853, durante a guerra do Paraguai. Não encontrei (nem procurei muito) alguma referencia a este episódio. No entanto encontrei uma estátua comemorando a vitória do Paysandú sobre o Boca Juniors...

Uma vez em Paysandú, fiz la famosa pregunta: señor! Donde és ló mejor hotel de  La ciudad? Fui encaminhado ao simpático hotel....   Foi minha primeira noite em direção ao nada, em uma cidade que me surpreendeu (como todo o simpático Uruguay) e em uma passagem que nenhum motociclista brasileiro usa... 



































































For my part, I travel not to go anywhere, but to go. I travel for travel’s sake. The great affair is to move.”  - Robert Louis Stevenson



Etapa de hoje:  839,4 km
Tempo andando: 10:15
Tempo total: 12:22
Distância acumulada: 839,4km
Media horaria do dia 86kmh