quinta-feira, 2 de março de 2017

Visitando Cachi e revendo os planos
















































Acordei relativamente cedo, não demorei no café da manha, montei sanduíches e os coloquei na mala... E logo estava pronto para mais um dia de estrada.  Coisas mundanas como buscar as roupas na lavanderia, cuidar da Rocinante, gasolina e vadiar pela cidade foram feitas ontem.

O plano original era passar este dia vadiando em Salta. Quem sabe passear no tren de las nubes ou visitar igrejas e museus (o interessantíssimo e fenomenal Museo Arqueologico de Alta Montanha estava fechado ontem), com certeza tirar uma sesta acompanhado por guitarras e compreensivas bailarinas flamencas (lembrando do importante movimiento Tetazo!)...

Mas senti vontade de fazer todos os passeios que ha por aqui em uma outra viagem. Com certeza com a namorada, que adooora uma estrada e programas de indio!!!

Eu ja estava sentindo saudade de coisas como estrada, sol, poeira, calor, sede, areia... Como eu estava um dia adiantado,  então resolvi mudar os planos.  Cancelei a Siesta com guitarra e as dançarinas flamencas  e decidi seguir em direção ao altiplano, para passar pela arqui-exótica vila de Cachi e de lá seguir a RN40 direto a San Antonio de los Cobres e de lá para dormir em Susques.























Vasculhando a internet e conversando com motociclistas fiquei sabendo que as chuvas de fevereiro castigaram muito a RN40 entre Payogasta e San Antonio de los Cobres, passando por Abra de Acay. Os planos para hoje, as aventuras nas partes deserticas e altas estavam realmente ameaçados e precisando de uma revisão cuidadosa.

Deixei as malas laterais e  coisas pesadas no hotel,
conforme combinado, o plano é passear por uma parte esquecida da Argentina e dormir hoje em Cachi, amanha na conhecida Susques. Alias, este trecho inóspito árido e seco era o segundo grande objetivo da viagem.

Acima: Início da maravilhosa serra de Obispo

Abaixo mais obras na estrada...  pavimentação com retificação... as obras por aqui demoooram!!!







Então eram 8:00 quando saí de Salta para o sul pelo mesmo caminho que eu entrei no do Vale de Lerma e segui até El Carril (alt.: 1.170m) e virei para a direita (oeste). Trecho lento e movimentado, com muita policia, andei muito devagar. 

O caminho é legal apesar do transito lerdo.  Ver uma serra totalmente coberta de vegetação densa foi totalmente estranho para mim...   A RP33 segue em direção ao altiplano por dentro de uma ravina na Serra de Obispo (ou Paso las Goteras).  Os 17 km de rípio com curvas de 180 graus começa a 2.440m e sobe até Cachimpampa (alt.:3.380m). Confesso que não esperava por algo tão bonito.





Vale cada KM!!!!





 


Em quatro mil quilómetros eu só encontrei estas duas Llamas... está chovendo e as estradas interditadas...  será que eu vim para a cordilheira certa???



O trecho de subida da serra está em terra, muioto bem compactado e largo, mas com as infelizes calaminas (costelas de vaca). Saõ coisa de 9km faceis mas lentos.

A chegada à Cachimpampa é fantástica e após seis quilômetros para sul a estrada vira para oeste e entra em mais uma espetacular planície desértica, onde fica o Parque Nacional de los Cardones (Alt.: 3.150m).



Acima: Salta está naquele vale sob as nuvens.

Abaixo: A subida da serra de Cachimpampa, ou Paso de las Goteras ou então Serra de Obispo.



Abaixo: O artesanato sao as coisas em pedra, não a guitarra...




No topo da serra, logo antes da entrada do parque ha um mirante com as típicas lojinhas. A barraca que mostrava os melhores badulaques era comandada por dois irmãos, e um deles dedilhava uma stratocaster...  tocamos um pouco, cada qual o tipo de musica que conhecemos...  comprei coisas legais deles e ainda ganhei um bracelete. 





Acima: A cordilheira principal com o colossal Nevado de Cachi (alt. 6.300m) à esquerda, sob nuvens. 

Sob as nuvens está o importante pico que é a residencia de Pachamama, a deusa inca do tempo e da ordem na natureza. Ela é defendida por um touro, que quando fica bravo solta nuvens pelas narinas!!! 

Acima: O trevo em Payogasta. Desta vez não deu para chegar em La Poma, nem em Abra de Acay... mas eu não desisti!!!






























A manha estava linda com temperatura de 16°C. Grossas nuvens de chuva coladas em quase todas as montanhas altas. 


O caminho desce uma pequena serra e a estrada segue para noroeste em um longo (14km) trecho de reta chamado de Tin Tin. Que termina em mais uma serrinha de onde a estrada desce até o trevo onde a RP33 termina na RN40, que vem de Cachi e Payogasta (alt.: 2.450m). 

O trevo fica em um lugar escolhido a dedo:  para oeste o maciço central andino e o fenomenal bloco formado pela montanha de Cachi  (alt.: 6.300m), para norte a RN40 seguindo até as montanhas de Acay e para o sul a vastidão do altiplano. A paisagem é sensacional! 


Acima: Entrando na paupérrima Payogasta           

Abaixo: o vale do rio Calchaquí, por ser Argentino é mais longo que o nilo, maior que o amazonas e também é melhor do que Pelé!!!

























Acima: estra estreita faixa é a parte fertil do vale do Calchaquí. Parece pouco, mas por aqui ísto é muito importante!        



Abaixo: sentido oeste, entrando em Cachi com o bloco de montanhas ao fundo. 



Passei pela miserável Payogasta e segui La Cuarenta para o sul, pelo vale fértil criado rio Calchaquí (pouco acima fica a nascente do mais longo rio argentino)  até a vila de Cachi (alt.: 2.350m).  

Esta vila foi uma grande e linda surpresa. Se há uma vila tipicamente andina é esta, vejam as casas antigas, as ruas apertadas, as montanhas ao redor, repare nas árvores e na vegetação!!!  

O lugar surge do encontro de dois vales férteis, alimentados pelo degelo. Com certeza é o maior e mais fértil oásis no altiplano argentino. 

Hoje a vila é um ponto concorrido de turistas, com varias pousadas e restaurantes sofisticados. Muitos turistas vem de Cafayate para cá, são coisa de 115km de ripio pela RN40 rumo sul. (Leia o post 

Longo caminho de Belén até Salta - Cafayate)


Acima e abaixo: as primeiras impressões da vila, que é um concorrido ponto de turismo.

Movimentado e em alguns lugares até atrapalhado.

































Acima e abaixo: a igreja de Jan José ao fundo e a plaza de armas, tradicionais em cidades espanholas.

A igreja original data do seculo XVII, porem foi reformada em 1890 e depois de um terremoto em 1947 ela teve sua fachada coberta com este reboco liso. Não ha registros de como ela era antes.

O altar é simples, bem distante do barroco brasileiro.
































Encontrei dois policiais  qu trabalhavam em cima de motocicletas. Perguntei a eles sobre as estradas e as notícias foram péssimas: As chuvas arruinaram a RN40 nas partes mais altas e com toda a certeza eu não conseguiria passar por la no dia seguinte.

Triste, mas eu me coloquei a imaginar um outro roteiro para o dia de amanha. Passei na pousada, pedi desculpas pelo cancelamento daquela noite e  resolvi voltar a Salta. 

Acima: de volta à pobre e deserta Payogasta






















A tarde estava linda e agora estava quente. No trevo, eu segui para norte, pela RN40 em direção às as montanhas de Acay rumo a San Antonio de los Cobres. O que seria meu caminho de amanha... e que foi cancelado.  

Aproveitei o trecho da Cuarenta em rípio para treinar um pouco para amanha. Foi ótimo! Com boas medias e segurança. andei quase 35km no ripio solto e estava treinado para o trecho de amanha.


Acima: mais uma parada para regular a pressão nos pneus.

Acima: Este é o começo do trecho mais dificil em La Cuarenta. Entre Cachi e San Antonio de los Cobres.



Acima: Olhando para o sul. São as montanhas que levam à La Poma. Note as nuvens, arruinaram as estradas e estragarão meu dia amanha também!


































































Eram  14:50 quando passei de novo por Cachimpampa no caminho de volta à Salta.  E tomei um gigantesco susto com um jumento que atravessou a estrada (o deserto esta cheio deles, ficaram selvagens por que perderam a utilidade e foram soltos, infestaram alguns lugares), parei para me recompor, tomar o resto  da água gelada.



























A descida pela serra foi otima e tranquila, estava mais confiante na descida pelo rípio.  A má notícia é que o tempo foi se fechando com nuvens escuras no vale de volta à cidade.






























A previsão do tempo para amanha não é nada animadora. E eu não estou com vontade de entrar em cordilheiras e desertos em dias de chuva ( lá não chove...  tem temporal mesmo!!!).


Vamos ver como o dia amanhece...  se estiver como foi a o final da tarde de hoje, eu abandono meu último dia de altiplano e começo o retorno para casa... 














Etapa de hoje:  331.9
Tempo andando: 06:14
Tempo total: perdi a conta...
Distância acumulada: 4.462 km