sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Uma breve história dos Andes


Bem....  quem leu no blog o dia dos 44 graus percebeu que eu estou confortavelmente instalado no hotel (com muito ar condicionado) tomando cerveja da patagonia e ouvido musicas bregas tocadas ao piano...  antes de ter que descer para a garagem e montar a moto para amanha,  resolvi dividir com vocês um pouco da paixão que me faz passar por tantos sacrifícios...

Texto re editado em 10 de novembro 2015

Com vocês: Os Andes!



O Aconcágua - Um bloco de rocha vulcanica. reparem nos picos negros e agudos formados por rochas resistentes à erosão- foto by kiko 

Faz muitos milhões de anos que a  espessa e pesada placa continental sul americana (na qual o Brasil está assentado) caminha para oeste, fazendo força contra  a  placa Nazca, uma placa que está sob o oceano pacífico. Este movimento é um dos mais acentuados no nosso planeta e a placa Continental ainda se move cerca de 7 cm por ano. Há 250 milhões de anos, a placa continental começou a "subir" na placa Nazca, esta que é fina e leve afundou e a placa Continetal subiu. A grosso modo é assim que se formou a mais extensa e recente cadeia de montanhas no nosso planeta, a Cordilheira dos Andes. Esta formação, ao contrário dos Himalaias, ainda não terminou.

É a mais extensa cordilheira do planeta, com pouco mais de seis mil quilômetros (Himalaia tem cerca de 600 e ou Alpes menos de 500 km de extensão). Como ela vai de 10 graus de latitude norte até quase 56 graus de latitude sul, passa por climas tropicias, temperados e antárticos ( sua extremidade sul fica a somente mil km da continente gelado). Forma desde desertos absolutos, rochas geladas a densas e quentes florestas tropicais.   É a mais variada em termos de biologia e palco de muitas e incríveis histórias encenadas pelos Homo Sapiens.



Antes que os sabichões de plantão venham declarar que as formações do oeste norte americano são continuidade dos Andes, vamos deixar claro: O fenomeno que criou a cordilheira vira para Leste na Colômbia, passa pela Venezuela e faz de novo uma larga curva para norte formando algumas das ilhas do Atlantico norte. Panamá, Baja California e Saint Andreas fault são outra história...


A parte da placa continental que "subiu" (a parte oeste que encontra com o Pacífico) é formada por terrenos que um dia foram planos e estavam sob oceanos ou lagos, por isto que a grande maioria das rochas nesta área é de origem sedimentar, são rochas moles e suas cores  são diversas. Dependendo do sedimento que formou as rochas, as cores variam do bege, verde escuro, amarelo ou um vermelho muito vivo.  As rochas sedimentares são geralmente mais claras e nada resistentes à erosão, se transformaram em areia preencheram os vales criando os salares. Não é nada difícil perceber os estratos de rochas nas encostas das montanhas, estratos formados por milhões de anos de sedimentação de areia e outras pequenas pedras.

Nas partes mais altas  é lindo ver estes estratos contorcidos ou exremamente inclinados, isso pela força e violência da natureza. Nas cercanias do Aconcágua (veja dia 27 dez 2010) há vários destes gigantescos extratos inclinados a 45 graus. É impressionante!

 Já no lado oriental (que faz fronteira com a vasta planície onde estão Argentina, Paraguai e Brasil) o movimento de subida do terreno quebrou a placa em longas linhas no sentido norte-sul, causando várias rachaduras na placa. O espaço por entre as rachaduras deixou passar o magma, formando imensas montanhas de lava e algumas das pré cordilheiras.  São rochas bem escuras, geralmente basalto e muito resistentes.  

Quando o magma que surgiu em um determinado local carregou consigo uma grande concentração de sílica, este formou uma rocha bem negra e com pontos brilhantes, esta rocha que brilha sob o sol se chama Andesito e há montanhas inteiras feitas disto!  Como este raro pedaço do planeta  ainda não teve sua formação concluída, ainda acontecem fortes tremores de terra (principalmente com o oceano Pacífico, onde a placa Nazca mergulha) e causa uma grande profusão dos fantásticos e irritadiços Volcones!!!

A cordilheira fica afastada da costa na Venezuela, Colômbia e no Equador. Por todo o Peru e pela metade norte do Chile ocorre o encontro direto das montanhas com o Oceano Pacífico, fazendo com que as únicas áreas litorâneas agricultáveis sejam a foz dos raros rios que criam verdadeiros oásis. No Peru, de sua fronteia norte até um pouco ao sul de Lima, a cordilheira avança para dentro do continente em média 250 km (em linha reta, perpendicular à costa). Começando então a se alargar. São 370 km de largura em La Paz, Bolívia; 650km em Iquique; 500km em Antofagasta; 450km em Copiapó;  270km em La Serena e somente 110km de largura na latitude de Santiago, Chile. Como comparação a parte mais espessa dos Alpes tem cerca 190km (entre o lago Garda e Garmish-Partenkishen)







Repare na camada de rocha sedimentar, que está inclinada porque foi "levantada" pelo movimento entre as placas. Minha foto próximo ao Aconcágua












O levantamento do terreno na parte W somado à extrema atividade vulcanicana na parte E, criou uma região em que a cordilheira é mais larga, ao norte do  Chile e Argentina e ao sul da Bolivia. Na parte central, na borda leste deste lugar, existe uma enorme concentração de vulcões ativos ou não, conhecida como Plaza de Vulcones. passaremos pelo meio dela no dia 31 de dezembro de 2011!

Neste pedaço de mundo se formou o segundo maior altiplano no planeta e o mais alto e árido deserto: o Atacama.


Pouco ao norte de Santiago as montanhas se afastam da costa criando uma estreita mas muito fértil área. Entre Santiago e Mendoza a cordilheira tem somente 145km no sentido leste oeste e está a 100km da costa, em Temuco esta distancia do oceano pacífico chega a 170km. Este afastamento criou um vale de onde vem toda a agricultura Chilena.

Seguindo para o sul, após Santiago, os Andes vão perdendo a imponência e ficam mais estreitos e distantes da costa. Raramente as altitudes passam dos 2.500m. Mais ao sul de onde fica Chillán a cordilheira fica ainda menos imponente embora ainda seja uma fundamental barreira climática, criando dois cenários e habitats diversas, agricultável do lado Chileno e a planície desértica Argentina.

No extremo sul, lugar que as agências de turismo chamam da Patagônia, a cordilheira não é mais tão alta, mas ainda serve de barreira para o clima, exibindo lidas cadeias de rocha vulcânica e formando um complexo arquipélago. Na ponta deste arquipélago fica o cabo Horn e os vários canais e passagens que  compõe o extreio de Magalhães.


O trabalho da natureza e o ajuste entre as placas ainda não acabou: Vulcão Puyheuhe no sul do Chile. Neste dia eu estava no escritório... pena.,..

Ao mesmo tempo em que Inti  brilha sem dó sobre o solo rochoso, algo de curioso acontece no oceano. Da antártica se desprende uma corrente marítma chamada corrente de Humboldt. Esta corrente sobe ao longo de toda a costa W sul americana indo até o México. O que ela tem a ver com nossa viagem? Nesta corrente a água é gelada e não evapora nada!!! Portanto os ventos que veem do oceano trazem muito pouca umidade. Este pouco que chega condensa como nevoeiro na costa ou causa tempestades de neve no inverno quando encontram os picos mais altos.


Vulcão El Fraille (6.000m) na Plaza de vulcones no Atacama. A água vem do degelo, não evapora por que está cheia de  susbtâncias como arsênico e sulfato de cobre, que também dão a coloração exótica da água.

 Abaixo: Vulcão Nascimiento ao fundo e a Laguna Verde, na Plaza de Volcones - Foto tirada dia 31 de dez 2011 Minhas fotos



Acima: tentativa (frustrada) de explorar a energia geotérmica na região dos geisers de Tatim, prox. a San Pedro de Atacama.

Abaixo: enorme montanha de rochas sedimentares se tornado areia. Foto tirada dia 29 de dez de 2011 no litoral pro a Chañaral. Minhas fotos.

























Ao contrário do que as agencias de turismo declaram, No Atacama chove! Assim como em quase toda a região da cordilheira que fica ao sul do Peru e ao norte de Santiago do Chile. Os rios sazonais criados por estas chuvas criam raros e pequenos vales férteis... ferteis pero non mucho...

A maioria das pessoas que que visita sua parte mais quente e árida, chama aquela região de Atacama. ha um post em 2017 que explica o que é realmente o Atacama.






















Clique no link " MEU CANAL UTUBE", logo abaixo da imagem da máquina fotográfica e assista  aos vários vídeos deste projeto!!!




O ponto baixo da viagem...

Quando se participa de um Rallye, existem poucos trechos realmente válidos ou interessantes. Os momentos que estão fora desta definição são chamados de " deslocamento". Pois bem, já foram uma noite gelada e um dia inteiro de deslocamento para chegar de São Paulo a Foz do Iguaçú.
Depois uma noite muito  escura e um hotel mal assombrado em Posadas.






Serão mais dois dias "deslocando", hoje e amanhã até chegar a algum lugar que realmente valha a pena. 


Hoje é talvez o dia mais monótono da viagem e com toda a certeza um dos mais baixos!! Foz do Iguaçú está a  230m   de altitude, posadas a 120 e Corrientes, a 52m. Também teremos companhia: fui alertado sobre muita Policía Caminera e animais na estrada.

Não dormi nada bem. praticamente fugi do hotel eram 9:00. O dia nublado e não muito frio: 26graus

A expectativa era de chuva,  ao invés disto, e posadas até Corrientes  o céu encoberto e ameaçando chuva. Este pedaço do continente é um  baixadão, plano a perder de vista, cheio de rios, com o pantanal e a represa de Itaipu logo ao norte. Ou seja, já é naturalmente úmido e abafado. e dezembro é mês de chuva mesmo. 

Não há muito o que contar da região. A estrada vem ao Sul do Rio Paraná, muito reflorestamento e pastos bem fracos. Há algumas regiões de Pantano, cheias de pássaros. Estrada padrão Argentina.











Passo rápido por dentro de Corrientes, cruzo o Rio Corrientes pela ponte General Belgrano e ingresso na província do Chaco.


Eu até que tentei parar para tira fotos deste rio ...

















Chaco quer dizer "caçada"... deveria ser "assado'!  quando saio da ponte a temperatura é de 36 graus, a cobertura de nuvens acaba, se abre um sol daqueles.  A medida que avanço pra dentro do Chaco, a temperatura vai subindo... subindo... subindo...


El Chaco: a foto parece inocente, veja a temperatura abaixo...




















A estrada é movimentada, mas não é perigosa. eu iria mais longe...  mas você não tem ideia da diferença brutal ente 42C e 44C!!! Parei para tirar umas fotos e resolvi não colocar a luva  de volta. Grande engano: sem as luvas e como capacete aberto a coisa vira uma tortura. Poucos km mais para frente resolvi parar para gasolina. enquanto estava na bomba tive a iniciativa de comprar umas garrafas de água geladas, para beber um pouco e jogar o resto dentro do casaco (procedimento padrão...). A lojinha ficava no outro canto do posto, fora da sombra da marquise... eu tirei o casaco e fui andando sob o sol...  algo como 50m depois, volto correndo p buscar o casaco: o sol TORRA!!!  Fui aconselhado a não cair na tentação de andar sem o casaco, agora entendo pq!

Apesar de ter andado somente 503km, eu realmente desisti de enfrentar o calor. A noite mal dormida de ontem está cobrando caro também. Vi um imenso outdoor de um hotel 4 estrelas ( vc não imagina a miséria da região...) Entro em Saenz Peña, a segunda maior cidade da provincia,e procuro o tal hotel.. fui direto ao chuveiro gelado!!!

Olhem só o hotel que eu encontrei e baratinho!








 

Amanha tenho setecentos e poucos km até Purmamarca.Forno adentro! Para tentar escapar disto, vou sair beeeem cedo, quando o sol (que cresceu...) estiver torrando,espero ja estar em um lugar mais alto e ameno...

Amanha é o último dia de "deslocamento". Acompanhe!





até agora: 506 km hoje e 1988 no total. faltam só mais 5.000.... Acompanhe!!








Até que enfim!!

Voltei à oficina  eram cinco da tarde e a peça tinha acabado de chegar!  Alegria:  agora é "só" montar a moto!!


O Luciano e o Rafael me deram toda a atenção e eu aproveitei para checar, reapertar, prender e revisar tudo o podia.  O vazamento foi teimoso...  deu trabalho mesmo. Mas como em qualquer oficina legal, no final da tarde sempre aparecem os clientes da casa e eu tive o prazer de estar com gente muito legal. Valeu! grande pessoas e sem eles eu iria passar o ano novo na Avenida Paulista...



Los tres amigos: Eu, Luciano e Rafael, repare a loja fechada e nós cuidando da Rocinante
 Saí da oficina eram 19:30, faziam 38C.. puta sol ainda. Corri para o hotel, encaixei as malas que já estavam prontas e vambora!!  ainda estava claro e quente.




Aduana no Brasil.


Passar pelas aduanas foi como passar por um pedágio, rápido e sem problemas.  Dureza foi trocar "reales" por pesos. demorado e burocrático! tive que assinar uma declaração de que eu não era nem funcionário público e nem político!  O recibo veio cheio de carimbos e assinaturas. Fiquei cerca de 40 minutos na fila!!!



Rio Pananá, a divisa entre dois países na divisa entre o dia e a noite.




O projeto original era ir até Corrientes, 640Km durante o dia...  eu estava ótimo, até disposto a chegar em corrientes as 03:00 da manha  dirigindo a noite...   mas esta idéias logo despareceram quando eu encaro a estrada.


Este primeiro trecho é um sobe desce danado. Ondulado e com poucas curvas, muitos caminhões e como não havia lua, um breu total. A temperatura ficou em agradáveis 25 graus, céu cheio de estralas e estrada sem buracos e cheia de placas. No posto de gasolina, a moça do caixa me disse que naquela tarde a temperatura atingira 43C, pensei até que viajar à noite é uma boa opção!


Meus planos heróicos se tornaram tímidos e me contentei a chegar em Posadas... as uma e meia da manha.... como sempre, pergunto onde fica o melhor hotel da cidade e vim parar nesta espelunca! Xou de horror, dormi pouco e muito mal. O café da manha foi ridículo.


Estou 340 km aquém do planejado... mas graças a deus, ao Rafael, ao Luciano e aos amigos do DOC eu estou NO plano!!!


Chamam este pedaço cheio de rios, terreno baixo e monótono de " Mesopotamia Argentina" . Por aqui o calor é sempre infernal, o senhor do concierge comentou que ontem fez 45C, fenômeno para o qual ele tem uma explicação científica e convincente: está acontecendo por que o sol cresceu! 


O que fazer? Bem, no plano eu deveria chegar hoje a noite em Salta, mas de onde estou são 1.400km. 15 horas na moto ou 18 horas de viagem.  Acho que não vai dar. Vou ter que pular Salta e ir até Purmamarca direto, com uma noite em alguma cidade. Mesmo assim serão hoje e amanha com 800 km por dia. Puxado.




A moto também serve de Máquina do tempo


Amanheceu nublado...  o que eu espero que espante o fantasma dos 45C e do sol crescendo.