sábado, 25 de dezembro de 2010

O que tem de interessante por aqui?




Aqui em San Rafael se produz a grande maioria daqueles vinhos argentinos que nos apresentam com orgulho nas churrascarias mais suspeitas...  mesmo assim o lugar é muito bonito!



Fui ao front desk do hotel para negociar um late check out e havia um casal sendo informado sobre as atrações locais. Não ouvi toda a palestra mas entedi que alguém falou algo sobre “ atravessar montanhas e desertos...” 

Péra!!!   Deserto???  montanha???  onde???


No sentido sul, a esqu. a Salina Diamantes, um lago de sal típico de desertos.

Acontece que San Rafael fica num platô a cerca de 700m de altitude. Acompanhando a Cordilheira dos andes corre uma pequena serra, e além desta um deserto de cerca de 60km de largura até o pé da cordilheira, já a 1300m de altitude. Para Leste desta serra fica San Rafael e um monte de outras vilas onde chove e no solo pedregoso se cultivam parreiras. A água vem dos rios formados pelo degelo, e estes também formam represas para geração de energia como a represa em Nihuil.


 A serra e as vinhas em San Rafael






 Voltando do deserto, se tem esta vista do vale verde de San Rafael e outras vilas.



A primeira imagem do deserto logo que se passa as montanhas. Temperatura de 27 graus e vento constante.


Kit sobrevivencia do explorador andinsta!!


O Graal ( o bar, não o cálice...) andino.


Represa e lago de Niuhil.



Olhando para o sul, Cordilheira do Andes ao Fundo

Passa por aqui um monumento nacional e lenda para quem viaja de moto (voce que tem Rarlei nunca ouviu falar...), trata-se da RA40, ou Ruta Austral, grande conhecida do amigo Izzi. Trata-se do trecho argentino da famosa Carrera Panamericana, que deveria começar no Texas  e ir até a Patagônia, e por motivos óbvios nunca ficou pronta. O trecho mexicano foi palco de corridas de carro e o trecho argentino é o Graal ( o calice, não o posto...) para quem viaja em moto de verdade. Neste pedaço, a RA40 ainda está em rípio (pequenas pedras que se soltaram dos andes e continuam soltas na estrada), e quem vem do norte passa pela RA144.


O passeio foi curto, 250km, mas sentir o silencio e vastidão do deserto, as montanhas ao fundo e finalmente fazer umas curvas com a moto sem as pesadas malas valeu o dia!

O caminho entre dois pontos é uma reta...



Choveu durante a noite e amanheceu um dia lindo! Depois de resolvidas as etapas malas e check out, começou a fuga de Buenos Aires. É manha do dia 24 de dezembro, mesmo com espírito natalino os adoradores-de-maradona continuam dirigindo muito mal!

As estradas argentinas são impecáveis. Andei uns 50 kilometros até encontar um daqueles fantásticos postos da YPF, que tem uma gasolina fantástica (recomendação do Regis). Fora da capital, os argentinos são agradáveis e dispostos a ajudar. Como sempre em todos os lugares, tem sempre um tirando fotos da moto, é só chegar e cumprimentar que se o sujeito for educado começa sempre uma conversa ótima.  Naquele lugar, o gentil senhor conhecia tudo na região de Mendoza e me orientou a ir via San Rafael, segundo ele, seria “más tranquilo y hermoso”. Perguntei se no deserto havia algum risco (de segurança ou crime, eu imaginei), ele sorriu e me respondeu: No señor! No hay ni ratones y ni culebras!!!

O “bonito” eu entendi... o “tranquilo” eu ia descobrir...

Esta estrada que vai até os Andes é muito importante, todo o fluxo Chile Argentida e toda a produção desta rica região sai por esta estrada, que começa dupla com quatro pistas e fica pista simples só 120km depois...  Bem, é um tsunami de caminhões e carretas enormes, juntos a Cirtroens e Renaults do século passado. Fila indiana com todo mundo andando mais rápido do que seguro. Existem muitas linhas de trem, e nenhum viaduto, imaginem a confusão.

A paisagem é linda, fazendas pequenas bem organizadas e muitas arvores. Sol, e cerca de 28 graus. Muito bonito.

 Cerca de 200km depois paro em Junin, que não é nada mais que um entroncamento de várias estradas. Parei para descansar dos caminhões e dos barbeiros. Cinco minutos na lanchonete do posto e lá estava um rapaz tirando fotos... cara muito legal, ele e mais dois amigos. Conversa vai conversa vem, eles confirmaram que San Rafael é mais bonito, que tem uns passeios legais e que a estrada é vazia!!  Isto foi como ouvir J. S. Bach: “Estrada vazia”!!!


Os amigos em Junin, gente legal!!!


A mudança de caminho para S Rafael começava justamente em Junin. E depois de uns 15km a coisa se revelou: asfalto perfeito, largo e vaaaziiiiooooo!!!

Um detalhe interessante, a região de Buenos aires está a cerca de 70m de altitude em média. Perto de Junin existe um platô com cerca de 250m de altitude. Nesta região o solo é negro, cheio de lagoas e uma agricultura sofisticada. Plantações de grãos até perder de vista. Depois de uns 300km, vem outro platô em média a 400m de altitude... só pastos. Cercas e gado bem cuidados e não se vê vaca magra. Mais 200km, 600m de altitude e a coisa vira um solo arenoso, com uma vegetação de cerrado e nada de fazendas nem vilarejos e nem de gasolina.



Acima-  Não passa ninguém, é plano a perder de vista, seco e muito quente.
Abaixo- Adivinha o que eu fiz nesta sombra de árvore?



Agricultura de primeiro mundo, solo fértil e água.



Uma reta sem fim...  reta e mais reta... as poucas curvas eram feitas sem sequer reduzir...   sol e mais sol... lá pelas três da tarde a temp era de 38 graus. Velocidade livre, eu andava entre 140 e 160...  horas a fio a 160... (rarleiros prestem atenção...) para me distrair eu contava quantos km até aquela árvore lá no horizonte, dava 13, 17, 19km. Parava só para tirar foto, comer frutas e beber a agua que estava fervendo. Silencio e calor. E Ninguem....



Esta é realmente a menor distancia entre A e B...


Combinei um encontro com elas em São Paulo...  no Fogo de Chão!

Como todos os postos que eu via estavam abandonados faz tempo, perguntei ao guarda da policia caminera e ele informou que o prox. posto estava  a 180km, ou eu retornava 50km. Eu acreditava que tinha uns 190 de autonomia (num é só acelerar, tem que fazer contas e saber bem o que sua moto faz da vida...). Foram 186km andando a 120 cravados (vel. de maior alcance), cheguei ao posto com todas as  luzes de reserva e low fuel piscando. Antes da gasolina, fui direto à lanchonete e tomei 750ml de agua gelada de um gole só!!


Reparem a mudança de vegetação, a estrada encolhe e a temperatura aumenta...  ... não aparece nem uma cascavel para te fazer companhia...


Hummm, você está espantado com os números...  veja as imagens do GPS: tempo total de viagem 11:01, 8:28 delas andando (sim parei para uma siesta em baixo de uma arvore!).  984 km percorridos no dia 24 e 2.229 desde porto alegre. Não... não dá pra fazer isto de Rarlei-deivizon!




A liha azul no mapa é o percurso desde Jose Ignacio. O techo na argentina foi feito em dia... faaaaacil ...

Lá pelas 19:00, o sol ainda alto no céu, deu para começar  a perceber o contorno da cordilheira do Andes no horizonte. Difícil descrever a sensação. Não tirei fotos... você precisa viver isto!!

Chegando em San Rafael, reaparecem a vegetação e os postos de gasolina. È bonito para quem andou os últimos 300km no cerrado. A temperatura as 20:00 eram de tranquilos 29 graus. Parei num taxi e fiz a famosa pergunta que já fiz em vários lugares neste últimos anos:

 ” Onde fica o melhor hotel de cidade ???"