quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Um dia longo e extra difícil. Voltando à civilização


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“Any thoughts of guilt or any feelings of regret had faded. 
The desert had baked  them out.” - Stephen King 


Acordei cedo e fiz um café da manha com muita calma, me sentindo muito bem depois de uma noite muito bem dormida!  Avisei aos amigos e irmãs que eu estava vivo, vivo até demais depois dos últimos três dias. 

Quer saber a verdade: o micro hotel no teto do mundo é uma graça! Os argentinos neste canto esquecido são demais de amáveis e deu vontade de ficar ali para o restinho de ano. Na verdade este era o último dia de seguir para frente... A partir de amanha começará o retorno ao caótico século XXI.  



Acima: O Hotel Pastos Chicos em Susques, saindo do aconchegante e  querido refúgio.
































Céu azul, frio e com aquele sol gostoso, me lembrou das manhãs preguiçosas na fazenda há 35 anos. O plano para hoje era seguir a RN 40 até sua nascente, em La Quiaca, fronteira com Evo Morales. É uma estrada no meio do nada, no topo da Puna Jujeña

Quando eu estava sentado confortavelmente em São Paulo, a minha ideia fixa era desbravar o inóspito trecho da nueva ruta 40. Para tanto eu deveria sair de Susques rumo noroeste para a região mais abandonada da Puna Jujeña. Seriam entre 270km  e 306km sem pavimento, coisa de nove horas sem ver asfalto... Fácil mesmo é planejar tudo isto sentado na minha cama em São Paulo. Duro é viver tudo isto!

E já eram quase 08:30 e estava totalmente dominado pela preguiça. O sensato seria voltar à Salta via Purmamarca e esquecer um dia de 9 horas pelo rípio. Me sentei no sol, na frente do hotelzinho na maior preguiça pensando o que fazer da vida. Deu saudade de casa, o sol ajudou a esquentar os 6°C e senti ainda mais preguiça.


Enquanto eu fazia fotossíntese, duas picapes beeem sujas estacionaram na minha frente. Dois dos aventureiros norte americanos (vestidos de exploradores em filme de tarzan...) olharam a moto e vieram falar comigo. Conversamos sobre roteiros, contei sobre o San Francisco, Abra de Acay, Cablecarril Chilecito e etc...  Perguntei sobre o trajeto até La Quiaca pelos confins do oeste da Puna Jujeña. A resposta foi clara: não vale o riscoNada para ver e ninguém para te ajudar.

Falei da minha paixão pela RN40 e uma das elegantes senhoras (lindos ojos azules) me perguntou por que eu não ia até Abra Pampa por las barrancas. Ela era paleontóloga de domingo e me contou coisas interessantes do caminho. Realmente ela foi fantástica!  Os aventureiros logo foram embora e em cinco minutos eu estava com novo roteiro pronto (não consta nada no GPS, seria um trecho de navegação pelas estrelas).




 Acima: A RN52 rumo ao Salar Grande / Purmamarca. 10:30 Alt.: 3.850m



 Abaixo: Já no vale que leva ao salar, a RN75 sai para o lado esquerdo.






Eram 10:20 - 9°C quando montei na moto entusiasmado pela nova ideia!!  O projeto seria subir a 75, ver Las Barrancas, seguir para Casabindo (onde ha a catedral da puna), seguir pelo deserto até Abra Pampa, pegar o asfalto da RN 9 e ir até La Quiaca, fronteira com a Bolivia. A noite será em Humahuaca. Fácil não???

Saí pela RN52, como quem vai para Purmamarca, Não me lembrava da serrinha tão sinuosa ( e alta) depois de Susques, cada vez que se passa por um lugar, se vê tudo de maneira diferente! Depois de 34k comecei a procurar a estradinha em areia que sai para o norte. As coisas mudaram de lugar e alguns trechos foram destruídos pelas enchurradas de março. Depois de alguma dificuldade eu encontrei o trevo com a RP75 e segui para o norte até a vila Abdón C. Tolay (Alt.: 3.615).



Acima: O encontro da RN75 com o asfalto mudou de lugar, deu trabalho encontrar esta pequena estrada.



 Abaixo: O ritual de acertar a moto para andar sem pavimento.






















Parei para agua, amarrar algumas coisas e recalibrar os pneus. Oitocentos metros depois o primeiro problema, um encalhe em um arenal!  Foi duro sair daquilo e contei com ajuda dos trabalhadores que estavam espalhando cascalho por sobre a areia.  Ela me ajudaram alegremente mas me avisaram que ' La ruta está mala..."  Ou seja, a estrada está  péessimaaaa!!  Poucas ondulações mas coberta de calaminas junto de fofíssimos depósitos de areia. Foram cansativos 14 Km até a vila, em uma das paradas para xingar o pavimento e recobrar de um susto  eu deixei meus oculos queridos companheiros caírem do bolso...  Uma perda!

Acima: Ooops, o primeiro encalhe...  na realidade eu só tentei passar por ali porque haviam os dois trabalhadores (extremamente engraçados). Dá muito trabalho resolver esta situação, sozinho é beeeeem dificil... 



 Abaixo: A dupla de herois!!!   Ultra simpáticos e piadistas!!! Fizeram questão de posar para a foco com as pás!!!


























Abdón Castro Tolay foi o professor que fundou uma escola e daí se formou esta vila, mais nova que Huancár, mesmo assim é semi-abandonada. Foi um alívio chegar ao lugar apos as estrada larga, plana e com o piso péssimo. Passei devagar pela vila, deserta, abandonada, meio desorganizada e pobre. Nada para fazer ali, nem para fazer perguntas segui poucas placas em direção ao vale formado pelo rio que um dia passou por aqui.  


Acima: entrada na vila de Abdon Castro Tolay.
Abaixo: O início das monumentais barrancas










O curso de água, que hoje é muito pequeno, formou um vale fértil (acredite se quiser...) dentro do canion cercado por paredes verticais, chamadas de las barrancas. São paredões naturais que dão nome ao local e guardam o patrimônio arqueológico da região. Neste vale viveu um dos vários povos pré Incas a cerca de 500 anos AC.

Por estas paredes há vários sítios arqueólogos e uma grande quantidade de petroglifos, na maioria representando guanacos ou vicunhas. Encontraram também artefatos de cerâmica e ruínas de pequenas casas.  O lugar é um monumento da humanidade.  Para ver a arte nas barrancas eu precisaria de um guia e gastar um dia todo. Para mim bastou passar com calma pelo magnífico vale, imaginando aquilo tudo verde a ponto de sustentar um povo.






Acima: Que ótimo lugar para estacionar sua moto!!! Acredite, ela está sobre uma estrada...  repare no solo entre as plantas. O lugar não é quente, muito pelo contrário, é gelado a maior parte do ano.



 Abaixo: Caminhei muito pelo deserto arenoso em direção ao riacho e o mais perto possível das barrancas



































No lugar onde estacionei a Rocinante havia um presságio escrito no chão: marcas de pneu de carro dando meia volta...  Resolvi ser teimoso e seguir rumo norte, para os  quase 32km até Casabindo. A estradinha inicia um sobe desce apertado, dei uma bobeada e deixei a moto cair... coisa boba mas levantar qualquer peso a 3.700m de altitude é extremamente difícil...  Coisa de trezentos metros mais para frente derrubei a moto pela segunda vez e logo logo encalhei pela terceira vez.  Chega!!!





,Acima: Não são resultado de erosão e sim de um levantamento tectonico. pelo que pesquisei tem entre 35 e 45 m de altura. Ínti brilha forte!!!

Acima: Visto de sul para norte... 12:00 alt.: 3.660m 15°C



 Abaixo: Visto de norte para sul. tive o prazer de caminhar muito por tudo aquilo.
   





Acima: Aquilo na RN75 é a Rocinante. O lugar é indescritível. 
Imagine um povo pré histórico vivendo aqui. 
Ha quinze séculos atrás este lugar foi fértil e o rio era grande. 
Repare que é areia e pedras para todos os lados! 



Abaixo: Sinais divinos, a terceira encalhada. 
Parece fácil, mas dá um trabalho do cão tirar uma moto de 240kg da areia fofa, mesmo com estes pneus.  
A 3.700m vc  se sente bem, mas percebe o quanto está fraco quando tem que resolver algo como isto...


















Meia volta e vamos sair daqui, eu tinha andado 30% do trecho em terra e não estava a fim de correr o risco dos próximos 70%. Poderia ser que a estrada ficasse linda e maravilhosa, mas eu só conseguia enxergar os próximos 500m e não me arriscaria naquilo. Ínti e Difunta Correa ja me ajudaram muito até agora... chega de deixá-los cansados...



Acima: Voltando, desisti!  Perceba a areia e o sobe desce de um caminho estreito.



 Abaixo: Olhando para o sul. Beem lá no fundo aparece nosso conhecido, o Nevado de Acay.











































O caminho de volta foi chato, estava começando a ficar cansado de levantar a moto desencalhar e da insegurança da estrada. Demorei para cumprir os 29km de volta para o asfalto.  Passei pela vile e não vi ninguém. Mas antes de chegar à RN 52 parei para água em frente de uma fazenda de Llamas... desci, e fui ver a fazendinha. E (tentar) conversar com os índios, descendentes de um grande povo. Eram 12:30.


























Acima: Esta é a sede da fazenda... Na direita ao fundo fica o cercado com os carneiros, que são extremamente magros e pouco maiores que um cachorro pequeno. Não dá para se ver, mas o índio macho estava na porta me olhando... 

 Abaixo: Sim, a foto é péssima e quase infantil, depois de uns 15 min de conversa com as duas senhoras, mãe e filha, eu não tive capacidade de tirar uma imagem melhor. Só me deixaram tirar esta foto....































Encontrei a senhora do local, que como eu já sabia, não queria me deixar tirar fotos, eles não gostam. Logo apareceu a filha dela (coisa de 14 anos, aliança de casada). por ali quem trabalha é a mulher... o nativo homem não faz nada além de mascar coca.  Tentei trocar as fotos pelo meu almoço e umas barrinhas de cerais.  As duas não gostaram da idéia...

Conversamos por um tempo, elas muto rudes, duras e secas por anos de exposição e brigas com Ínti . Extraí uma conversa a forceps e então me contaram que vendem a lã das Llamas uma vez por ano, é sua renda. Trocam alimento e coisinhas na cidade pelos pequenos e magérrimos carneiros que eles criam. Perceba nas duas fotos, o lugar é a definição de secura, não ha grama nem energia. A casa é minuscula e a Sra. me disse que nasceu lá.  

Consta que eles moem o milho em pedras, e que estas pedras por sua vez se desfazem, se misturam ao fubá e vão corroer os dentes de quem come aquilo. Realmente os dentes destes índios são sempre gastos até a metade. Xou de horror!!!  As mão são pequenas, a pele escura e extremamente dura, as unhas minusculas. Só cumprimentaram apertando a mão porque eu estendi minha mão... mesmo assim não seguram sua mão e o contato é muito rápido para um lugar onde nada acontece. Realmente muito duro e difícil tudo aquilo. Minha visão romantica do Indio atacamense, herdeiros de Manco Cápac, ruiu naquela manha...


Voltei para a moto, muito chocado. Andei por coisa de dois Km e parei de novo para fotos e para xingar o pavimento. O lugar impressiona pela vastidão e pelo vazio, por ali não ha nenhuma planta, pássaro, sin ratones e sin culebras... 




Acima e abaixo: 12:55 Alt.: 3.600m - 14°C No meio do nada... Na definição de nada... 



















  

Mas havia aquele silencio, aquele céu, a amplitude do lugar e eu cheguei onde eu queria: em lugar algum, no meio do nada. Pronto: Minha missão estava cumprida. Intí me cumprimentou, orgulhoso de seu pupilo!!! (12:30, 3.400m  14°C)



Acima: Missão cumprida!  Chega de rípio!!! Agora vamos começar a voltar para o planeta terra. 14:15



 Abaixo: Rumbo leste, as montanhas no fundo são da Cuesta de Lipán e as nuvens estão sobre a Quebrada de Humahuaca. Quatro dias sem ver uma nuvem...
   
































Logo encontrei o asfalto. Considerei terminada e cumprida a minha missão (14:15  17°C). De lá eu segui a RN 52 rumo leste...  em direção ao Salar Grande...  o plano agora é chegar ao hotel de destino, em Humahuaca pelo lado sul...   pela ja manjadíssima passagem pela Cuesta de Lipan. Era o caminho mais longo e que eliminaria Abra Pampa e LaQuiaca, objetivos daquele dia, onde eu queria ir só para tirar fotos da RN40 em seu início.  





Acima e abaixo: Chegando ao Salar grande.
Ele estava seco e branco, parece óbvio mas nas duas passagens anteriores
eu só o vi alagado e marrom!!!
15:00 Alt.: 3.410m 17°C










Abaixo: Conversando com outros amigos (de moto naquele lugar perdido, todos são amigos!!!) da estrada...   Expliquei sobre o caminho para Los Cobres e ganhei 3 litros de gasolina.














Acima: Em um dos novos pontos para turistas no salar... Hora de encher os pneus, comer e beber.  Conversei muito com esta família da foto, cedi à eles minha garrafinha de oxigenio.




Parei na estrutura turística do salar,  agua, comida recalcular os trechos e autonomia. Encontrei outros motociclistas argentinos que planejavam ir à S. A. Cobres pelo caminho que fiz, conversamos bastante e quando disse que estava com combustível contado por conta da mudança de planos, eles me cederam tres litros, mais 50km de autonomia confortável.




Acima: Então...  para onde vamos??? 

Eram 15:25 quando retomei a estrada rumo à Purmamarca e Humahuaca.  Caminho lindíssimo ( primeiro trecho do Paso de Jama), tranquilo, subindo até 4.300m para despencar pela serra de Lipán rumo à Purmamarca. Era a terceira vez que passava por al, sempre maravilhosos este trecho!

























Acima: deixando o altiplano Jujeño... Olhando para susques e para o salar

 Abaixo: As nuvens se formaram da umidade do chaco argentino e paraguayo, foto tirada a 4.140m de altitude, olhando para o leste.
































A descida da Cuesta de Lipan foi fenomenal, de 4.500m para 2.800m, foi a terceira vez que passei por ali e a primeira com sol!!  O caminho  foi lindo e confortável e logo passo por Purmamarca (alt: 2.200m), passei devagar porque naquele lugar tiveram muitos momentos bons.  Vai demorar muito para eu subir a 4.000m de novo...

Eram 16:05 e 18°C quando encontro a RN9, viro para o norte em direção à tão desejadas gasolina e borracharia em Tilcara, acertar os pneus e seguir norte para o hotel em Humahuaca.


A partir de Tilcara o caminho seria novidade. A grande quebrada de Humahuaca é muito bonita e bem movimentada. A estrada é otima mas exige cuidados. 




Acima e abaixo: Cenas da Cuesta de Lipán

































Passei pela frente de Humahuaca eram coisa de 16:40, a temperatura esta muito agradavel e a estrada relativamente vazia...  a escolha era: ou entrar e ir para o hotel em Humahuaca, a ideia mais sensata apesar de só ter andado coisa de 250km naquele dia, ou a pior ideia, subir até o alvo original, La Quiaca, fronteira com a Bolívia.  Eu sabia que não passaria mais por ali. Estava a coisa de 205km de La Quiaca, portanto andaria mais 410km naquela tarde... tudo pra ver o lugar onde nasce a RN40...



Acima: Entrando em Purmamarca, a estrada e a vila mudaram bastante


Abaixo, descendo de Purmamarca para encontrar a estrada para Tilcara e Bolivia



A escolha foi dura e optei pelo mais difícil...  subir até La Quiaca... eu não voltarei para la e sei que me arrependeria de não ter andado estes 410km...


A subida pela quebrada de Humahuaca foi tranquila até demais, a temperatura estabilizou em 19°C e o transito era muito leve, principalmende de caminhoes velhos, onibus lerdos e vans de turismo. Facilmente ultrapassáveis. A quebrada (um grande Canion) termina em uma bacia (Alt. 3.500m), desce um pouco e encontra o canion formado pelo  Arroyo Três Cruces, e sobe por uma serra até 3.700m de altitude onde existe a vila de Tres Cruces, uma delicia de trecho!




,Acima: O topo da quebrada de Humahuaca, bem lá no fundo, depois das montanhas, fica a Bolivia


Abaixo: A serrinha do lindo canion do Rio Tres Cruces





























Logo após Tres Cruces, uma vila sem graça
 mas com
uma demorada barreira policial,  a estrada vira para nordeste a começa a subir, e quando passa a lado de uma montanha chamada Ezpinhaço del 
Diablo surgem formas geológicas muito bonitas, coloridas e com os gigantescos extratos de rocha torcidos como se fossem chantily. 






Acima: O Ezpinhaço del Diablo. Foi uma pena não ter boas fotos desta formação!! O lugar é muito bonito!!!































































Eram 17:30, 21°C quando pasei por Abra Pampa. Eu chegaria nesta vila caso tivesse me arriscado naquela estrada em rípio depois de Las Barrancas.  Li coisas péssimas do lugar mas na realidade é muito mais organizada e limpa do que eu esperava. Tomei o rumo norte em um trecho da RN9 que fez parte do traçado original da RN40. É  quase que uma reta até a fronteira com a Bolivia e haviam varios trechos em obras e sem pavimento...  passei devagar por dentro das vilas, que ainda mostram as ruinas das antigas estações de trem, e a tarde começava a cair... 

Se eu estivesse mais descansado em com tempo, as fotos seriam ótimas...   Para piorar as baterias das maquinas estavam no fim!


,Acima: Abra Pampa, uma surpresa positiva. Repare que não há ninguem nas ruas..  é assim mesmo.


Abaixo: O trecho da RN9, antiga RN40 rumo norte. Saliente ao fundo das montanhas, logo à esquerda do poste, está o Vulcão Zapalleri! (para quem não leu o texto de ontem , ali acontece a fronteira Argentina, Bolivia e Chile)
















































































Eram 19:50  e  18°C quando cheguei meio exausto na cidade mais feia que vi na vida.  Nada para se comentar do lugar, aquela bagunça típica de cidade de fronteira com a Bolívia, caminhões, ônibus capengas, o povo com traços indígenas e tudo muito pobre. A praça principal é um gigantesco páteo de areia solta onde ficam as ruínas da ferrovia. Ainda se percebem os trilhos e a decadência é geral.

Estava cansado e com fome... parei em um ponto de taxi para indicações. Ninguem sabia de nada e o comportamento era de Neandertais mascadores de coca. Busquei sem sucesso peo indicações da RN40. segui meus instintos e logo estava onde ela começa para o oeste e onde ela começou na década de trinta: em uma ponto perto da ferrovia.  Quer saber? Foi Broxante!!!

Fiz as contas e com mais sete litros de gasolina eu chegaria ao meu hotel daquele dia. Estava no ponto mais ao norte da viagem, estava na latitude de Pirassununga em SP.

Antes que Ínti desaparecesse por traz das montanhas chilenas, eu cometi uma última estrepolia: Saí pelo lado oeste da cidade em busca da Nueva RN40,  queria muito andar até encontrar uma placa e tirar fotos, o marco zero de 5.000km. Mas estava exausto de andar em rípio com costelas de vaca... Andei coisa de 1 Km, tirei fotos péssimas e voltei. Chega de suor, poeira, tombos e lágrimas...




,Acima: Meus úlmimos metros de rípio por um bom tempo. Acredite, este é o começo da RN40. Andei 210km para chegar acabado a este ponto e para tirar esta foto ridícula...



Abaixo: O trecho da RN40 entrando na horrivel La Quiaca... Repare na sombra, o sol ja estava se escondando no oeste.























O que fazer em La Quiaca?  Fugir de lá!!!!  Cansei de  ficar de olho para não ter problemas com os não argentinos. Me sentia cansado e com uma certa fome. Estava  meio receoso com a minha segurança e resolvi voltar à estrada. Íntí ja se escondia por detrás daquelas montanhas que fazem o Paso de Jama. Até aquele momento foram 240km em baixa velocidade e grande altitude. Eu tinha combustível até o hotel de hoje, seriam somente mais duas horas noite adentro até uma cama e chuveiro quentes... 


Eu não saí de La Quiaca... eu escapei de la!!!   O sol sumiu (20:30) e o frio veio...  Parei na saída de da cidade para conversar com uns policiais e depois parei na vila de Pumahuasi ( sim, a casa do Puma) para conversar com a policia e colocar casacos e luvas para o frio. Setenta km depois estava em Abra Pamba a partir daquela vila a  RN9 é uma estrada nova, nunca foi a RN40, alias, adeus Panamericana por um bom tempo...



,Acima: Fugindo de La Quiaca para o sul. Este é o primeiro trecho da antiga RN40 que hoje se chama RN9. No final das montanhas ao centro ficam Las Barrancas...


Passei por Abra Pampa ja estava escuro. Naõ gostei nada de andar cansado e à noite por aquele trecho. Tive a sorte de encontrar com uma van com um motorista bem arrojado que ia na minha frente mostrando o caminho. A temperatura caiu  para coisa de sete graus, mas à medida que eu descia ela voltou a subir bastante. Acho que por volta das 21:00 cheguei à ultima serra que entra no grande canion e  os últimos kms foram em um breu total e de vez em quando dava para se  ver as luzaes de Humahuaca...   Andei extremamente devagar... Traz segurança  saber que não existem buracos naquele trecho!



Cheguei na vila iluminada por horriveis lampadas amarelas, a minha pousada ficava no bairro mais escuro e fui recebido com festa e preocupação por uma senhora índia mais do que expansiva e engraçada.



Feitas as coisas de sempre fui atraz de comida e vinho...  alias... de vinho, vinho ... mais vinho e alguma comida.  Não troquei de roupa, fui com as botas e a calça totalmente cobertos por aquela areia branca. É bem cansativo caminhar com aquela roupa... Andei pela vila escura, não gostei nada do restaurante que me indicaram e resolvi andar mais um pouco até encontrar um restaurante BARBARO!  Simples, mas fenomenal! Havia duas salas e um páteo. Em uma das salas havia uma mesa com umas dez pessoas... não queria barulho e me sentei na outra sala. Tomei demoradamente uma garrafa inteira de um ótimo Torrontés!!!







Acima: Mis nuevos amigos!!!  Jantamos juntos em Salta no dia seguinte!!! Gente querida!!!


 Abaixo: A vila extremamente interessante de Humahuaca!































































Quando ia pagar a conta puxei conversa com um dos caras da mesa ana outra sala, O Armando... Logo eu estava jantando com eles, todos motociclistas!!!

Eu já estava completamente contaminado pelo ritmo Andino: tudo lento, sem pressa, sem motivo e sem muitas palavras. Aproveitei a internet mesmo lerdíssima e atualizei o blog, é minha única maneira de dizer que está tudo bem 




















































































Voltei para o hotel na parte escura da cidade, o hotel é

medio, super novo, pequeno e simples, mas caro p cacete para o que ele é. Banho e desmaiei na cama!!!





Acima: O caminho visto de sul para norte, em Amarelo o trecho em rípio. Repare o Salar grande que é parte branca ao sul de Susuqes. Laáaa no norte fica a Bolivia e o Salar de Uyuni (uma mancha na parte esquerda da imagem), o maior do planeta. A linha amarela que passa por La Quiaca é a fronteira com a Bolivia. 






Para os bocós que ficam em casa só dizendo que a coisa não vai funcionar e que vai dar tudo errado e que sozinho eu vou me F...   

Para quem só arrotou regras porque veio para cá (de avião) uma só vez...

 Para quem só anda em bando, de preferencia com carro de apoio...

Para quem tem alergia à poeira, não quer camas apertadas e morre de pavor do rípio...

Bem, fica meu orgulho: Eu fiz!!! Vocês não!!!




Etapa de hoje:  619,2
Trecho em Ripio: 62km


Distância acumulada: 4.206,50 km