sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Chegando em Nova Toledo


Acima: Don Diego de Almagro
Em 1534 o Rei da Espanha dividiu os territórios conquistados por Francisco Pizarro e seu sócio, Diego de Almagro (dois facínoras...), em duas partes. A primeira que se chamaria "Nueva Castilla"(do paralelo 1° até 14° de latitude sul, terminando perto de Cuzco), a segunda, mais ao sul  se chamaria " Nueva Toledo" (de 14° a 25° latitude sul, até Taltal no Chile).



Em 1535 Don Diego de Almagro (na foto) monta sua expedição, partindo de Cuzco, para tomar posse de Nueva Toledo e de suas riquezas, em um território que um dia se chamaria Chile.  Acreditando em boatos e histórias de bar, sai em busca de seu Eldorado. Partiu para o sul, seguindo uma trilha Inca com 500 soldados, uma trupe de cavalos e cerca de 2.000 índios como escravos. Ao invés de seguir pelo mar, resolve virar para sul-este e alcançar as majestosas, douradas e hipnóticas montanhas.



O que se sucede é uma das histórias mais fantásticas de estupidez, ignorancia e luta para sobreviver. Sem ter nenhum preparo, apesar de ter sido avisado no que estava se metendo, dirigiu quase três mil pessoas à morte certa. 

Durante sua marcha pelo Atacama, em altitudes entre 3 e 5 mil metros foram  enganados pelo calor e sol durante os dias de março, durante às noites os soldados literalmente viraram pedras de gelo. Os espanhóis eram burocráticos, portanto há relatos detalhados de absolutamente tudo deste período. 

As descrições são de pessoas e animais congelando ao encostar nas rochas (parece exagerado) ou durante o sono. Fome e todas as doenças do frio se somavam aos problemas da altitude, deserção dos índios e envenenamento com a água dos salares ou lagunas. Consta que os índios iam todos acorrentados pelo pescoço, os que morriam tinhas suas cabeças decepadas e depois presas à corrente, ou seja, ou você vem ou você vem! Nem pense em morrer!

Eu entendi bem o perigo que o hipnótico altiplano esconde, veja por este blog os sustos que eu passei sob efeito da Puna (o mal da altitude).

Em determinado momento, Don Diego monta acampamento no meio do deserto congelado e envia uma pequena expedição para ver o que há por perto. Esta expedição desce por um vale até encontrarem outro espanhol, Gonsalo Calvo (que roubara algum ouro de Pizarro e fugira...  ...ladrão que rouba de ladrão...), que estava calmo e confortável em uma tribo indígena num lugar chamado Copiapó. 






































Foto tirada dia 31 de dez...  eram 17:00 e faziam 8C. Leiam post dia 2 de janeiro 2012!!!

Os incas já conheciam esta passagem e o Inca Túpac Yupanqui (Filho de Pachacútec e avô do Inca Atahualpa) a utilizou para invadir o que hoje se chama de Chile. A este caminho que desce pelo vale de Copiapó e que salvou os poucos infelizes espanhóis que sobraram, Don Diego dá o nome de Paso de San Francisco em homenagem a Francisco Pizarro. Somente cerca de 100 soldados sobreviveram.


Quatrocentos e setenta e sete anos depois, e durante o verão, é a minha vez de cruzar os Andes por um dos caminhos mais longos, altos e difíceis. Os Rarleilos que se arrepiam só de ouvir falar em rípio devem parar a leitura por aqui:  dos 450 km de Copiapó até Fiambalá, cerca de 230 são por "estradas" sem pavimento. São também 450 Km sem posto Graal para concertar as rarlei e uma subida três vezes mais alta do que ir de Taubaté até Campos do Jordão. 

E tem mais: Inti deeetésta barulho!!!


Amanha é dia de fazer o caminho inverso que nosso anti-heroi espanhol fez!!! 


Talvez o dia mais esperado desta viagem...




Nova Toledo em 30 de dezembro de 2011 ( Copiapó)






























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