domingo, 25 de dezembro de 2011

Cuidado com o que vc pede!!!!


Hoje foi foda...

Vocês se lembram que ontem eu estava reclamando do calor insuportável, sol inclemente e etc???


Pois bem...  leiam...



Acima: cinco da manha.. sol nascendo e muita chuuuvaaaaaa
Acima:














Despertador ajustado para as cinco e meia da manha... nem precisou...  as cinco caiu a maior tempestade. Chuva grossa e muito vento.  O lado bom é esfriou e eu voltei para a cama com a janela aberta. Adoro dormir de janela aberta, e em hotéis é melhor ainda poque você não precisa limpar a sujeira no dia seguinte...

Durante a madrugada pensei que a chuva duraria até umas 9:00 somente. Virei para o lado e dormi mais...

O medo que deu foi desta região alagar.  Eu sei que estas tempestades duram pouco e que (em um lugar normal) depois delas vem ainda mais sol e calor. Preciso sair urgente desta colonia de férias do diabo.
Acima: Por volta do meio dia, 17°C e chuva constante. Parei no trevo em Avia terai, 38km após Saenz Peña, onde ha um ponto de onibus com cobertura.















Seis e meia e ainda chove...  voltar pra cama...  oito e decisão tomada: Vamos com chuva e trovões mesmo!

Lembram do calor de ontem? E que eu reclamei dos 44C?  Então hoje temos chuva, um vento do cão e tudo isto com 16 graus!!!  

No dia anterior, logo no trevo em Saez Peña, o câmbio começou a roncar mesmo. Imaginando que fosse somente falta de óleo, peguei um taxi que estava encostado na frente de um buteco e fomos procurar em algum posto de gas um pouco de óleo para caixa de marchas. 


O taxi era um Fiat Uno movido à diesel, bem podre e sujo, o motorista monossilábico... Fomos bem devagar, ruas esburacadas e estava tudo alagado pela cidade, ruas bem ruins e quase sem movimento. Frio e ventando.

Dei uma grande sorte de encontrar uma embalagem de dois litros do exótico óleo que a BMW usa em seu cambio. Por aqui ha muitas máquinas agricolas que usam lubrificantes especiais. Depois de praticamente trocar o óleo da caixa de cambio da Rocinante, e fazer uma enorme meleca na garagem do hotel (eu chutei a lata de oleo na garagem...), saio apressado do hotel.















Ontem eu consegui andar uns 150 km no Chaco, ainda restavam fácil uns 450km até a paisagem e o clima começar  a mudar. Por conta dos dias a mais em Foz do Iguaçu,  Salta foi riscada do roteiro, ficou para o ano que vem. Fui direto a Purmamarca via Jujuy.

A imagem abaixo, foto do meu GPS, mostra bem a situaçaõ. São 390km de reta, nesta planície infernal, até contornar uma pequena elevação, seguindo o rio Currados para depois cruzar uma serra baixa que leva a San Salvador de Jujuy. Repare no maciço da cordilheira à esquerda. Logo após Jujuy, viramos para N e entramos na Quebrada de Humahuaca.


Bandeirinha verde: Saenz Peña; Bandeirinha laranja: TocoPozo; Bandeirinha vermelha: Jujuy. Uma reta sem fim pelo pior da argentina em um dia de chuva.

Entro na estrada por volta das 10:00, ainda 16°C e chuva constante e vendo forte vindo do sul. Sinto um alívio ao deixar para trás as ruas esburacadas e inundadas. Daí eu descubro que esqueci o computador na concierge do hotel!!!

Saco! voltei coisa de 40km, de novo nas ruas elameadas e inundadas. Pego o computador e mais lama e buracos inundados até o asfalto...

Eram 750km? pode somar mais 80 por conta do esquecimento. 




Veja no mapa,  é uma reta só até chegar a El Quebaranchal (que nome!!!) a curva para norte no mapa acontece para contornar um rio Currado e segue o caminho da antiga ferrovia lentamente seguindo para W e depois SW, as pequenas vilas levam o nome as antigas estações. A partir deste longo contorno é que começamos a subir de cerca de 400m aos 1.300m, já se percebe uma ondulação no terreno e ao longe se vê algumas das pequenas serras q antecedem os andes.


Este lugar se chama " Pampa del Infierno"... Não abasteci aqui por conta da fila. Me arrependi bastante.


Como sobreviver a esta reta??? A técnica para superar a monotonia é a seguinte: quanto faltam 600km, vc diz pra vc mesmo que agora é só fazer SP Buzius...  quando faltarem 500km vc pensa que é só ida até o rio de janeiro...  fácil... quando fizer 400km é o mesmo q ir à Curitiba: Moleeezaaaa!!!   e assim por diante... fácil não??? Isto com chuva, o vento te jogando para os lados e muitoooo friooo...


Acima: Em 1998, vim pela primeira vez de Moto para a Argentina. Haviam várias destas placas absurdas...  hoje reencontrei uma. O curioso é que ele é novinha...  o que será que Sr. Kirschner está planejando??

Abaixo: O lugar é pobre e desorganizado.





Acima: Chez Turco Loco, você arrisca um almuerço aqui???




A vegetação é totalmente diferente do que vi em outros cantos da Argentina, não chega a ser uma floresta, nem um cerrado. É algo entre os dois, com muitas arvores médias, muita vegetação, e forrado com plantas de folhas pequenos e resistentes Chamam isso de "Bosque Chaqueño". 

A medida que se avança o bosque chaqueño desaparece e surge uma vegetação bem mais pobre, pequenas fazendas a beira do abandono, há poucas cultura de grãos, só um pasto bem fraco e poucas vacas, uma pastagem mais rustica.  A partir de Joaquin Gonzales o trecho logo antes da RN 9 é estreito, sem sequer as faixas no chão e andar a mais de 120km/h não foi inteligente.


Consultem o trecho do dia 25 de dezembro de 2010, e percebam a diferença. Mais ao sul, indo para Mendoza, assim que a pastagem some, o deserto aparece, vejam as fotos. A  umidade que vem do vale deságua nas primeiras encostas baixas da cordilheira, cobrindo as primeiras serras que levam ao planalto onde se localiza Salta  e Jujuy  de uma mata bem parecida com que ha no norte do estado de SP, porém com árvores menores. Existem plantações de grão e pastos, e muitos porcos soltos na estrada.

Trecho bonito? pra quem não sabe fazer curvas, é o ideal. Para quem adora a região de Guaxupé vai se divertir por aqui: não ha nada para ver além da reta, de transito dos costumeiros autocaminhones, Peugeots e Renaults, enormes carretas da YPF e fazendeiros que andam a exatos 60km/h... 


A região é muito pobre, miserável mesmo. sem nenhuma graça. Para trazer mais emoção ao dia já lotado de confusão, tive que andar um bocado fora do caminho atrás de gasolina. Isso mesmo: há uma puta crise de falta de gasolina neste país. Muitos postos fechados, e vários abertos mas sem nada para vender. Quando vc encontra, tem fila. Votar em populistas desvairados dá nisto...


Onde está Wally? A fila para gasolina Em Joaquin Gonzales. repare na precariedade.





Parei para gasolina, café caliente e nutritivos salgadinhos na vila de Victor Joaquin Gonzales. Conversei muito sobre o coaminho até a cordilheira com dois motoristas de caminhão que estavam levando dois Volvo zerados para o Perú. Fiquei aliviado em saber de que o pior ja passou e que os proximos km até a RN9 seriam faceis. 

Coisa de 110km depois davile eu chegava a uma rodovia principal. Entrando na RN9 para N a coisa melhora muito, pena que as nuvens estavam baixas e não dava para ver montanha nenhuma. A estrada é larga e movimentada, a paisagem é bonita, com a floresta mais fechada, alguns trechos áridos, somem os porcos, aparecem uns vaqueiros, várias estações de trem abandonadas.

Ao invés de virar para W e subir para Salta, sigo reto...  sentido General Guelmes, a temperatura sobe para 22C ufaa... mesmo com clima feio e nuvens baixas.

Segui até San Salvador de Jujuy, onde se passa por fora da cidade, cuidado com a coleção de radares e policiais. Sigo direção NW para a entrada do vale do rio Jujuy, chamado de Quebrada de Humahuaca. 

Em Jujuy, as montanhas e a relativa baixa altitude, 1.400m, fazem com que toda a umidade que vem do vale fique por ali mesmo. San Salvador de Jujuy é uma cidade grande e importante, cercada por montanhas cobertas de florestas densas e arvores altas. Muito bonito mesmo.

Paro em mais um posto sem gasolina para vender, aproveito a paradinha para ligar ou mandar mensagem de natal para quem eu gosto muito. Foi muito gostoso. Anos atrás, a esta hora, eu estaria chegando para o jantar de natal na casa da minha avó. Era por volta das 18:30.

Como não havia gasolina no posto logo na saída de Jujuy, e eu não queria entrar na cidade, fui perguntar a um sujeito numa caminhonete anos 70 onde havia gasolina. Enquanto mostrava os dentes verdes escuro de tanto mascar coca, ele informou que há um posto em Tilcara ( 25km adiante da entrada a Purmamarca)  que sempre tem Gasolina porque é fundamental para quem vem da Bolivia. Vamos lá...


Quebrada é como chamam vales íngremes ou ravinas, e a  Humahuaca é importante, com 135 km de extensão, levando a Ruta 9 quase até a Bolivia, cheia de vilas e algumas atrações turísticas... declarada patrimônio pela Unesco.

No início da Quebrada  a paisagem lembra Minas Gerais: Montanhas arredondadas,  vegetação rasteira e algumas florestas ralas com arvores pequenas... O que se chama de "rio" é um vale seco  e cheio de pedras. Isto transborda na primavera com o degelo das montanhas e glaciares, e destruiu várias vezes a ferrovia!!!

Não senti a ladeira, é uma subida moderada sempre seguindo o leito quase seco, percebo que a moto faz força e que as nuvens vão ficando mais baixas, temperatura cai dos 22 para 11...  eu nem reclamo: estou onde eu queria estar!

Mais umas curvas e passo por León (1.680m), por outro rio seco, por Volcán ( 2.000m)... depois Tumbaya (2.184m)


A partir da vila de Tumbaya a coisa começa a mudar: somem as árvores, a gramínea desparece e os picos ficam beeem mais agudos. 15 km depois e 300m mais alto chego à entrada para Purmamarca. 


Passo direto a entrada e vou a Tilcara atrás da rara gasolina.

O caminho sobe pela Quebrada de Humahuaca sentido N, pelo lado esquerdo da quebrada. É muito muito bonito. Como a altitude cresce, as nuvens começam a rarear e consigo ver um pouco de céu azul. Ver céu azul sempre me deixa feliz e com sensação de que tudo vai dar certo.


A Quebrada de Humahuaca após a estrada para Purmamarca. Por volta das 19:00, 10°C

No posto em Tilcara aconteceu algo que me deixou puto da vida. Encontro um grupo com 5 motos "tipo Harley". Cheios de malas mal arrumadas, tudo pendurado e caindo para os lados. O fato da desorganização que mostra total falta de planejamento não me incomodou. O que pegou mesmo foi que haviam aquelas antenas longas com a bandeira do Brasil tremulando. Fui até eles cumprimentá-los e dividir as experiencias de hoje etc.. 

Nem olharam nos meu olhos e nem me cumprimentaram!!

Amigos leitores: estávamos pra lá da PQP!!! Por que estavam em um grupo eles eram superiores ou imunes a qualquer imprevisto?  Se não querem ser abordados para que as bandeiras do Brasil?


Foi o máximo da indelicadeza.
Foi o máximo da falta de noção sobre onde e que estávamos todos fazendo.

Ínti não gosta de gente arrogante...



Gasolina finalmente!!! O posto em Tilcara, com crianças curiosas. 
Abaixo: Tilcara.



Retorno para o sul, logo chego à entrada para W que vai ao Paso de Jama e ao destino de hoje: meu hotel em Purmamarca.

Entro em Purmamarca, nem procuro o hotel, paro em uma praça e desligo o motor. 


A imobilidade incomodaNas montanhas coloridas não existe mais vegetação... não sinto frio (9,5°C)... sem vento....    a luz do céu é diferente... ar seco... as pessoas se movem devagar... ninguém repara em mim... silencio... não ha pressa pra nada: Cheguei na terra do deus Sol!



891 km, 10:31 desde o hotel, 8:11 de movimento, 2.879 desde a minha casa...
























"The first condition of understanding a foreign country is to smell it." -Rudyard Kipling








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